domingo, 29 de janeiro de 2012

Cabeça de Chave

Todos os dias, das 14 às 22 horas, ela trabalhava como gandula no Clube de Tenis. Hora paga e algumas regalias como ganhar camisetas de torneios e pedaços de bolos nas festas de aniversários, comemorações, e outras do gênero realizadas entre os tenistas. Enfim, sentia-se quase uma sócia-atleta do clube de elite, quase uma família que nunca teve ( Nota da Autora: é...enredo triste, mas não desista, apesar dos lugares-comuns, hoje pode ser meu balde, amanhã pode ser o seu - lugar comum: balde,areia, notas da escritora) Quando começou era franzina, magrinha. Corria muito e era muito atenta durante os jogos, nunca perdendo um movimento dos jogadores e nunca errara o alvo ao atirar a bolinha para o jogador da vez. Vista com carinho por todos. Até um dia descobriram que era o aniversário dela e fizeram de improviso uma festinha, cantaram parabens e alguem correu na padaria mais próxima e comprou um bolo de padaria (!). Ficou feliz. Macabéa foi crescendo e jã não eram mais aquelas pernas secas, esturricadas de sol, aquelas canelas que pareciam dois gravetos fincados nas areias vermelhas das quadras de tênis. Foi amadurecendo seios, nádegas e as pernas, meu deus, as pernas eram as pernas mais bonitas daquele clube. Bela. Sua beleza brilhava como amarelo gema de ovo ao sol. Passou a escutar piadinhas maliciosas dos garotos e os velhos extrapolavam de vez em quando nas gorgetas, mas continuava a mirar os tênis. Ganhou uma raquete Wilson quando ainda era pequena, mas sempre estava abraçada a ela nas horas vagas ou então treinando no paredao com as bolinhas peladas que os tenistas dispensavam ...Boa observadora que era, aprendeu logo logo os golpes e as manhas do jogo. Começou a participar de torneios e os sócios tenistas incentivavam pagando as inscriçoes e às vezes tinha até torcida. Ela, sempre muito tímida e de olhos baixos,aprendeu . Era boa. Era ótima. "Sonhava em voar nas asas mágicas da sua raquete e conquistar o mundo". Astuciosa, desenvolveu com perícia um backhand fantástico, os drives e aces (indefensáveis). Vibrava a cada set point, a cada game a a cada vitória. Vibrava como as cordas tensas de nova raquete Wilson carbono.Drives e aces inesquecíveis. Backhands eram seu forte. A moça bonita era cheia de graça e os meninos estavam apostando entre si quem a conquistaria primeiro. Coisa em euros e dólares. Perdição, a morena foi engolida pela vaidade e cedeu para o prazer de um riquinho, virando troféu que todos os garotos queriam possuir. Motivo de chacota entre eles, Macabéa percebia e sentia-se humilhada. O tal garoto...sei lá, parecia ter desistido dela e de seus encantos virgens. Os outros todos queriam experimentar a doce aventura de penetrar a linda Macabéa. As esposas dos tenistas já a olhavam com as testas esticadas de botóx mas os olhos expressivos de desconfiança. Piadas, risadinhas, todos sabiam da love story da moça. Continou vítima das apostas e seus olhinhos quase sempre, quando não estavam centrados no jogo, estavam fixos nas cordas da raquete que endireitava com atenção, gesto que os tenistas repetem sempre para concentração. Dava algumas aulas particulares a crianças impertinentes e sem talento e velhos barrigudos que usavam o pretexto do jogo de tenis para poderem se reunir com outros homens e tomar cerveja depois dos jogos. Um dia, enquanto separava com os dedinhos aflitos a imperfeição dos quadrados das cordas da raquete, num insght profundo, fruto de longas observações e solidão exacerbada, uma nova palavra veio adicionar-se ao seu já extenso conhecimento de inglês técnico: OUTSIDER. Naquele momento, decidiu. Desistiu. No pequeno quartinho onde mora, na casa de uma tia, Maca, nas horas vagas,agarra sua raquete Wilson e fica a arrumar cuidadosamente os quadradinhos das cordas frouxas, desemparelhadas, carinhosamente,enquanto assiste jogos de tênis pela TV. Da tenista não há mais nada, nem tampouco da gandula. Apenas uma moça triste, virada para dentro de si. E as belas pernas.

sábado, 23 de julho de 2011

Entre a dor e o riso (a cela fria)

Sentava-se ao seu lado e começava a fantasia: ele queria o sonho, o delírio, a cova preparada, a morte. Episódios de silêncio sepulcral intercalavam-se com a mania, quando investia num vocabulário pesado sobre os planos, os sonhos de ter uma casa, um carro, ser alguem famoso. Queria uma vida. Um karaokê. Coisas distorcidas que a mente dela não conseguia acompanhar. Delírios, sonhos que voavam mais alto que suas asas (dela).

Tentava acompanhar os passos, mas sempre tropeçava no caminho, deixando os rastros que a imperfeição humana não conseguem alcançar. Apenas os olhos passeando sobre aquele rosto iluminado pelo brilho da loucura. Como as sobrancelhas de Frida Khalo, asas negras que se partiam ao meio, a testa ora franzida, ora esticada enormemente entre as orelhas.

Muitas vezes ficava trancado na cela fria e ficava lá por dias e dias. Levavam-lhe a comida, os remédios. Depois voltava ao delírio.

- Por que? - ela nunca perguntou quando o encontrou com a arma encostada à cabeça, quase ao ponto do tiro. Mas não quis saber mais nada, não perguntou.
Deitou sobre o corpo trêmulo, em convulsão, e ficaram um só debatendo-se com a morte. Até quando? Uma história curta: choque elétrico, sonoterapia, tremores, delírios, sucumbiam evidentemente à violência da doença. Gostava que ela espremesse as espinhas do seu rosto de adolescente.
.....
Foi-se o menino, era agora um homem - e continuava na cela fria. Um história breve, ele já tinha morrido e partes dela tambem estavam soterradas na água fria.

Do choro ao riso, as fases intercalavam-se. As paredes, frias, ainda se lembra. O corpo gelado, no entando, não teve coragem de tocar. "Estou aqui para dizer a verdade" - pensava. Mas nunca disse: um silêncio retrucava o outro, era necessário.

Uma vez ouviu algo como "um anjo", mas um homem mau (falava como uma criança) disse que era mentira, que ela não tinha ouvido nada.

(Como já disse antes, foi uma história curta. As paredes sabiam, porisso ela tinha medo de tocá-las. Não encontro euforismos para a palavra morreu. Mas ele morreu. Mas era vivo, inteligente...e vivo. E vivo. "Ele vive dentro de você" - outro euforismo ridículo...vive dentro de mim - mal posso comigo!).

Ela não viu a cena. Diz a lenda que ele afundou com os braços cruzados sobre o peito. Um buraco negro e profundo engoliu seu corpo pálido e magro. Ficou entre as pedras, solitário, não vivido, oscilante entre o choro e o riso.

- Estou aqui, ela sussurrou aos seus ouvidos mudos - para sempre.

...ele ouviu (eu sei).


OlgaMota

quinta-feira, 9 de junho de 2011

(redundantemente)

É muito triste estar (redundantemente) triste
É muito triste
Não perceber a alegria

(Aonde ela se esconde?)

...e se essa tristeza
Passar de repente
E, de repente (redundantemente)
Vier um laivo de alegria - ai, que maravilha!
Essa menina triste que me habita
Se alegraria toda cheia (redudantemente) de alegria

Quem sabe em um supermercado
Um lugar comum tão redundante nessa vida

Um espelho que reflete, uma figura bonita,
Um carrrinho de compras
Pode ser uma esperança

Olhos atentos na lista:

O suficiente de sobreviver
O pão, o vinho, a escova de dentes,

Lá (redundantemente) não se vende a alegria!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

juntando folhas erpasas

O meu corpo e o teu , somente sobrevivos, euquanto as velas se apagam…todo o ardor se esfuma em branca nunvem de fumaça, em espuma desvanece.
Como pêndulos, lado a lado, somente eu sobrevivo, no entanto. No ventre inchado, outras duvidas, permanecem as feridas.
Os olhos cansados refazem um holocausto - teus olhos verdes cruzando os meus morenos.
Sobrevive o corpo, até quando, te pergunto. Não respondes. Estamos mortos, pendendo lado a lado na válvula de escape, enquanto resta vida.
Os ruídos que vem de fora legitimam a clausura.
Na jaula, passo a passo, nao me reconheço. Vozes altas conversam entre si, alheiam-me ao silêncio.
Muda, estarei enlouquecendo? Não, só um surto, desses que dão e passam. A penumbra, o quarto vazio, o vento frio da primavera.
O dia carrega com o vento o que as folhas varrem. A rua de asfalto careado parece ..

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pendentes

o meu corpo e o teu
somente sobrevivos
velas se apagam
todo o ardor se esfuma
em branca nuvem de fumaça
em espuma desvanece
pêndulos
lado a lado
somente eu sobrevivo
no ventre inchado
outras culpas ...
permanecem as marcas
da ferida

os olhos cansados
refazem um holocausto
dos teus olhos verdes
cruzando os meus morenos

sobrevive o corpo
ate quando, te pergunto
nao respondes
nao respondo
estamos mortos
corpo a corpo
pendentes
na válvula de escape
enquanto resta vida

OM

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A poesia pulsa (sem acento)

Bem no meio de mim
Entre o figado e coracao
Entre a carcaca e a vida
Pulsa em ritmo frenetico
Tropega fria indomavel

Vestida de perfida inocencia
Atravessa a friagem mar opaco
Entre o figado e o coracao
Onde ocorre a liturgia

Levitando em manto opaco
Palavras vestidas de preguica
Rocam as aguas com a lingua
Lambendo docemente as feridas

No quarto que me acolhe todo o dia
Esgueirada gata mansa
Roi as unhas suicida

O sangue pulsa sinapse invertida
Na garganta a lingua morta
Falica profunda meiga escandalosa
Aborda presuncosa a poesia

OM

(a Indignada teimosa)

terça-feira, 10 de maio de 2011

El Quién (gráfico) - traducao de Rene Maldonado

Las orejas pegadas a la tierra húmeda,
llena de hojas de otoño caidas caliente,
escuchando el sonido del agua que fluye a través de los canales de la naturaleza,
me enseñó a amar el pájaro que yo pensaba que era una aburrida
(me desperté a las seis, con su sinfonía!).

A entender el tacto que sedujo mi cuerpo suave.

¿Quién debe la gracia de sonrisa amplia, abierta y fácil. El arte de beber en público. El arte de dejar que yo?

Él me dijo sobre esto, eso y la otra, todos los secretos que conocen el miedo
y aún oigo el sonido de su voz susurrando cosas
al mismo tiempo descaradamente
a cabo con los dedos ágiles vergüenzaba los rincones de mi cuerpo frío, triste.

- Y me ha dicho "eres bella, bella Eres, Eres Perfecta! "–

Y yo, flotando en el espacio vacío de la inquietud - nubes que se denomina deseo - que creía!
.
Que dormía con el teléfono pegado a la cama "por si acaso”
necesito ayuda en las noches de insomnio, me atormentaba maldita ...

y se llevaron todas las pesadillas, la noche aterradora, cuando el viejo colchón se daba vueltas en la orilla.

( Una vez cortado el dedo con un cuchillo oxidado con el que he preparado una comida asquerosa…

- "Te la Hice yo!" – cómela¡

Luego golpeó mi rutina con otro cuchillo y me robó el arte.

Cerca de la posesión, era el peligro.

Corrí ligeramente...

Y el resto de mí se puede realizar en tal urnas redondeadas y se extendier en el suelo,
que aunque pasó la lengua, donde yo, yo caminaba.


OM