sábado, 23 de julho de 2011

Entre a dor e o riso (a cela fria)

Sentava-se ao seu lado e começava a fantasia: ele queria o sonho, o delírio, a cova preparada, a morte. Episódios de silêncio sepulcral intercalavam-se com a mania, quando investia num vocabulário pesado sobre os planos, os sonhos de ter uma casa, um carro, ser alguem famoso. Queria uma vida. Um karaokê. Coisas distorcidas que a mente dela não conseguia acompanhar. Delírios, sonhos que voavam mais alto que suas asas (dela).

Tentava acompanhar os passos, mas sempre tropeçava no caminho, deixando os rastros que a imperfeição humana não conseguem alcançar. Apenas os olhos passeando sobre aquele rosto iluminado pelo brilho da loucura. Como as sobrancelhas de Frida Khalo, asas negras que se partiam ao meio, a testa ora franzida, ora esticada enormemente entre as orelhas.

Muitas vezes ficava trancado na cela fria e ficava lá por dias e dias. Levavam-lhe a comida, os remédios. Depois voltava ao delírio.

- Por que? - ela nunca perguntou quando o encontrou com a arma encostada à cabeça, quase ao ponto do tiro. Mas não quis saber mais nada, não perguntou.
Deitou sobre o corpo trêmulo, em convulsão, e ficaram um só debatendo-se com a morte. Até quando? Uma história curta: choque elétrico, sonoterapia, tremores, delírios, sucumbiam evidentemente à violência da doença. Gostava que ela espremesse as espinhas do seu rosto de adolescente.
.....
Foi-se o menino, era agora um homem - e continuava na cela fria. Um história breve, ele já tinha morrido e partes dela tambem estavam soterradas na água fria.

Do choro ao riso, as fases intercalavam-se. As paredes, frias, ainda se lembra. O corpo gelado, no entando, não teve coragem de tocar. "Estou aqui para dizer a verdade" - pensava. Mas nunca disse: um silêncio retrucava o outro, era necessário.

Uma vez ouviu algo como "um anjo", mas um homem mau (falava como uma criança) disse que era mentira, que ela não tinha ouvido nada.

(Como já disse antes, foi uma história curta. As paredes sabiam, porisso ela tinha medo de tocá-las. Não encontro euforismos para a palavra morreu. Mas ele morreu. Mas era vivo, inteligente...e vivo. E vivo. "Ele vive dentro de você" - outro euforismo ridículo...vive dentro de mim - mal posso comigo!).

Ela não viu a cena. Diz a lenda que ele afundou com os braços cruzados sobre o peito. Um buraco negro e profundo engoliu seu corpo pálido e magro. Ficou entre as pedras, solitário, não vivido, oscilante entre o choro e o riso.

- Estou aqui, ela sussurrou aos seus ouvidos mudos - para sempre.

...ele ouviu (eu sei).


OlgaMota

quinta-feira, 9 de junho de 2011

(redundantemente)

É muito triste estar (redundantemente) triste
É muito triste
Não perceber a alegria

(Aonde ela se esconde?)

...e se essa tristeza
Passar de repente
E, de repente (redundantemente)
Vier um laivo de alegria - ai, que maravilha!
Essa menina triste que me habita
Se alegraria toda cheia (redudantemente) de alegria

Quem sabe em um supermercado
Um lugar comum tão redundante nessa vida

Um espelho que reflete, uma figura bonita,
Um carrrinho de compras
Pode ser uma esperança

Olhos atentos na lista:

O suficiente de sobreviver
O pão, o vinho, a escova de dentes,

Lá (redundantemente) não se vende a alegria!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

juntando folhas erpasas

O meu corpo e o teu , somente sobrevivos, euquanto as velas se apagam…todo o ardor se esfuma em branca nunvem de fumaça, em espuma desvanece.
Como pêndulos, lado a lado, somente eu sobrevivo, no entanto. No ventre inchado, outras duvidas, permanecem as feridas.
Os olhos cansados refazem um holocausto - teus olhos verdes cruzando os meus morenos.
Sobrevive o corpo, até quando, te pergunto. Não respondes. Estamos mortos, pendendo lado a lado na válvula de escape, enquanto resta vida.
Os ruídos que vem de fora legitimam a clausura.
Na jaula, passo a passo, nao me reconheço. Vozes altas conversam entre si, alheiam-me ao silêncio.
Muda, estarei enlouquecendo? Não, só um surto, desses que dão e passam. A penumbra, o quarto vazio, o vento frio da primavera.
O dia carrega com o vento o que as folhas varrem. A rua de asfalto careado parece ..

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pendentes

o meu corpo e o teu
somente sobrevivos
velas se apagam
todo o ardor se esfuma
em branca nuvem de fumaça
em espuma desvanece
pêndulos
lado a lado
somente eu sobrevivo
no ventre inchado
outras culpas ...
permanecem as marcas
da ferida

os olhos cansados
refazem um holocausto
dos teus olhos verdes
cruzando os meus morenos

sobrevive o corpo
ate quando, te pergunto
nao respondes
nao respondo
estamos mortos
corpo a corpo
pendentes
na válvula de escape
enquanto resta vida

OM

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A poesia pulsa (sem acento)

Bem no meio de mim
Entre o figado e coracao
Entre a carcaca e a vida
Pulsa em ritmo frenetico
Tropega fria indomavel

Vestida de perfida inocencia
Atravessa a friagem mar opaco
Entre o figado e o coracao
Onde ocorre a liturgia

Levitando em manto opaco
Palavras vestidas de preguica
Rocam as aguas com a lingua
Lambendo docemente as feridas

No quarto que me acolhe todo o dia
Esgueirada gata mansa
Roi as unhas suicida

O sangue pulsa sinapse invertida
Na garganta a lingua morta
Falica profunda meiga escandalosa
Aborda presuncosa a poesia

OM

(a Indignada teimosa)

terça-feira, 10 de maio de 2011

El Quién (gráfico) - traducao de Rene Maldonado

Las orejas pegadas a la tierra húmeda,
llena de hojas de otoño caidas caliente,
escuchando el sonido del agua que fluye a través de los canales de la naturaleza,
me enseñó a amar el pájaro que yo pensaba que era una aburrida
(me desperté a las seis, con su sinfonía!).

A entender el tacto que sedujo mi cuerpo suave.

¿Quién debe la gracia de sonrisa amplia, abierta y fácil. El arte de beber en público. El arte de dejar que yo?

Él me dijo sobre esto, eso y la otra, todos los secretos que conocen el miedo
y aún oigo el sonido de su voz susurrando cosas
al mismo tiempo descaradamente
a cabo con los dedos ágiles vergüenzaba los rincones de mi cuerpo frío, triste.

- Y me ha dicho "eres bella, bella Eres, Eres Perfecta! "–

Y yo, flotando en el espacio vacío de la inquietud - nubes que se denomina deseo - que creía!
.
Que dormía con el teléfono pegado a la cama "por si acaso”
necesito ayuda en las noches de insomnio, me atormentaba maldita ...

y se llevaron todas las pesadillas, la noche aterradora, cuando el viejo colchón se daba vueltas en la orilla.

( Una vez cortado el dedo con un cuchillo oxidado con el que he preparado una comida asquerosa…

- "Te la Hice yo!" – cómela¡

Luego golpeó mi rutina con otro cuchillo y me robó el arte.

Cerca de la posesión, era el peligro.

Corrí ligeramente...

Y el resto de mí se puede realizar en tal urnas redondeadas y se extendier en el suelo,
que aunque pasó la lengua, donde yo, yo caminaba.


OM

domingo, 8 de maio de 2011

Almoco de domingo sem cedilha (FICCAO)

Era um almoco normal de domingo, como de costume em nossa casa. Toda a familia reunida, tudo transcorria alegremente .As convesas giravam de Dilma a Bin Laden, as ultimas gracinhas dos netinhos, as ultimas noticias do front aonde eu me encontro exilada.

De repente, Ana Carolina, a irma mais nova, levantou-se, colocou as duas maos sobre a mesa e disse, numa voz calma e quase inaudivel:

- Vou me matar!

Ninguem ligou; continuaram comendo, se nao me engano, pelos detalhes que me foram contados depois, estavam na sobremesa, pudim de leite condensado. Todos sabiam que ela era meio doidinha mesmo… Teve um que riu, acho que foi meu irmao mais velho, que gostava muito dela, pois era a cacula.

Aninha dirigiu-se entao para a sacada, apoiou-se na bancada de marmore e jogou o corpo para frente, despencando do oitavo andar.

Alguns continuaram comendo o pudim de leite, alguns se engasgaram, minha cunhada correu ate a sacada e comecou a gritar histericamente. Meu pai nao estava, pois eis que ja e morto, minha mae, devido a idade e ao Alzhmeier, nao percebeu nada e continuou insistindo diante do prato de sobremesa:

- Come, Aninha, voce esta tao magra.

E o corpo alvo (era a unica “alva” la de casa, motivo de orgulho de uma familia de origem indigena e por que nao dizer, preconceituosa). As criancas, perplexas, tampouco entenderam, enquanto os pais apavorados procuravam distrai-los e recolhe-los da cena. O elevador chamado, demorava a chegar, entao alguns se precipitaram escadas abaixo, gritando “Ana Carolina”!

O corpo estracalhado, ensanguentado, lembro bem, embora nao tenha vista, feito aos pedacos - nao conseguiram juntar. Choramos Aninha ate hoje, e a nossa casa, os nossos almocos,
O corpo estracalhado, ensanguentado, lembro bem, embora nao tenha vista, feito aos pedacos - nao conseguiram juntar. Choramos Aninha ate hoje, e a nossa casa, os nossos almocos, o mundo inteiro nunca mais foi o mesmo. La em casa nao e Bin Laden nao e mais assunto. Silencios e dor, muita dor…ai,

Aninha….


..................................................................................



….irma ~~~~~~~~


maos ~~~~``~~~~~~~~~~

indud’’’’’’’’’’’’’’’’’’’’vel

imra```o


cacu(cedilha) kla


n~ao ….

E, pra bom tendendor o acento nao basta.

O CORPO ESTRACALHADO EH O CORPO ESTRA(CEDILHA)ADO


mais tarde, eu junto os pedacos, se puder....


(peda(cedilha)os

sexta-feira, 6 de maio de 2011

No entanto eu queria a ti, sentir

Hoje eu te vi: um corpo atraves da cortina que cobre o espaco entre a rua e o meu quarto. Sobrio,os ombros encolhidos, cenho franzido, caminhavas lento.

No meio da multidao que atravessa o comeco do dia para o trabalho, andavas lento e tardio - atrasado?

Passou por dentro dos meus olhos feito brasa que a noite havia sido carvao endurecido.

Meus olhos mudos percorreram o teu mesmo percurso, ate que chegues ao inferno de destino que criaste.

Ambos mudos, nao nos vemos.

A cortina espana um vento suave, uma brisa morna atravessa o ventre.

(Tao feita de gente essa cortina); escorro os dedos amaciando-a como se fosse o proprio peito onde sobrevive ainda essa, essa chama de amor apodrecendo.

O vidro da janela reflete um corpo - a minha imagem e semelhanca endurecida de encontro ao material do vidro ardente.

Espanto com a mao uma mosca invisivel atravessando o pensamento, o olhar perdido, o vulto vai…e vai correndo lento.

Trouxe de volta o desamparo em que me encontro: o sonho se acabando ao redor de tua ausencia.

E o bale do sol comeca; o corpo que flutua, canta, queima o vento, de cinzas, preso, “ensimismado no apresura el tiempo”.

OM

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Aquela mulher
Sempre indo e vindo, aquela mulher que nao sou eu, parte de um lado, a metade de outro, faz uma limonada e vai. Remexendo sentimentos, arrazoando com irracionais, truncando o tempo na tentativa desesperada de se tornar eterna em coisas efemeras como uma flor, por exemplo. Foi um tempo longo de partidas, sempre deixando pedacos de si (de mim, incluso).

Nao a querem amarga. Mas a calda ja se esparramou, de amarguras; o fel da vida derramado em gotas, permeado de vas alegrias...e marasmo, ocio, fantasias: quero isso, quero aquilo. E tudo pobre mentira da criatura. Caminha por ai, mas ja esta morta, nao sobreviveu aos desastres naturais - o ultimo, o penultimo tsunami.

Aquela mulher e ingenua muitas vezes. Parte sempre com esperancas. Para que, eu te pergunto (a ela). Um amor, um sentido pro viver, uma aventura no alaska inundado, uma bomba do binlader? Amarra-se a uma corda frouxa, de nylon escafedido e salta o bungjump.
Naufraga e poe a cabeca fora d'agua, navega e naufraga. Isso pode ser autobiografico, se ela fosse famosa. Mas pra que, pergunto eu (a ela)?

Sempre escalda os pes quando doem as caminhadas. Poe pomadas e implora uma massagem. Aquela mulher andarilha ainda nao cansou de ver estrelas e cantar a luz do dia amanhecendo. Ainda sonha e tem pesadelos. Come e bebe, dorme, acalenta as letras dos livros lidos e relidos - e amados, acaricia velhas capas de albuns vazios. E, ao mesmo tempo, num salto precipicio, aquela mulher sai do nada, encolhe as pernas, chora um pouco, desabafa, troca o salto baixo pelo alto...

e, refeita, a mulher corre...

Pra que, pergunto eu (a ela).

OM

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sei la

Amarelo, azul, verde e vermelho. No fundo, um verde enegrecido.
Ao centro, bem no meio da tela, dois olhos negros com pintas vermelhas. Era o fogo, pensei. Depois nao pensei mais nada, apenas movimentava as tintas e os pinceis.

O professor passou, parou, olhou..., ato continuo perguntou intrigado:

- O que e isso?

Foi minha resposta:

- Sei la...

- Minha senhora nao se pinta o "sei la".

- Eu pinto, respondi humildemente.

Ele deu as costas, encolheu os ombros (contanto que eu pagasse as aulas ) e continuou orientando as outras senhoras - todas ali por nao ter o que fazer ou inidicadas pelos terapeutas como prevencao para alzheimer, olharam com olhinhos arrelagadinhos para o meu quadrinho e concordaram diante de tao vasta sabedoria.

Passada meia hora, o professor voltou e percebeu (de novo, intrigado - representando o papel de professor de pintura, por que pintura nao se ensina), e percebendo que o "sei la" tinha mudado completamente: o vermelho estava alarajado, o azul desaparecera, os olhos tao negros estavam agora corde-de-sujeira, nao havia mais ceu, nem mar, na linha que tranpassa o horizonte apenas machas e formas deformadas..Perguntou de novo, agora arrogante e irritado:

- Minha senhora, onde esta o seu quadro?

- Sei la...- respondi, lavei os pinceis, recolhi a tela ao escaninho, tirei o avental manchado de tinta vermelha, guardei todo o material, olhei o rosto no espelho para tirar os resquicios de tinta, lavei as maos...sequei com a flanela ensanquentada (nao de verdade, e a mentira da tinta), dei uma ultima mirada na tela enorme, cheia de "seil'as",
e sai em direcao ao parque.

Vou fazer sei la no parque.

OM

sábado, 30 de abril de 2011

concluios da saudade

concluios tragicos da suadade
Ela tem a chave-mestra e vai abrindo quartos sombrios onde se esconde a memoria esquecida, a que tinha esquecido. Vultos, imagens; em posicao FECAL os olhos escondidos abrem-se lentamente...e o corpo fica enlouquecido diante da voracidade dos sentidos....

Pensamentos voam tao rapidos quanto a velha aguia que retorna de onde afiou as garras... (e o corpo, enlouquecido na voracidade dos sentidos...); quase um seculo depois, o inesperado surge. Astor Piazzola tanga-me e troco perolas por brilhantes esquecidos, indiferente: o corpo, enlouquecido.

Maldita! - A vida da-me flores e depois, num sorriso escarnecido, leva-as de volta ao cemiterio.

- Vai-te, morte, se possivel!

A saudade faz conluio com a mentira (Canticos de Samolao, quem ouve - Eu).

Esconde-se no jogo, unhas vermelhas, rasga a carne e dismistifica o que eu ja tinha embalsamado no doirado sujeito da minha loucura; vem e me desarma, eu, tao preparada p'ro futuro. Na prisao doirada.

Traz de volta a consciencia e em lucidez voraz consome o presente, cospe o passado, pagina virada, encerra a narrativa.

OM OM OM OM OM OM OM OM

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A perda depois do ato, talvez a saudade dos sentidos. O ato se traduz num ultimo olhar, breve, quando os olhos cruzam dentro, um no outro - ato, falico, sem sentido quando se escreve sobre ele, ele falha, ele falha e ja nao e mais ato. Fica so o sem sentido do depois.
E ai, quere-se mais e mais e mais.

E falha, e falha mais e mais. O ato, simbolo da vida. Os mortos dancam em atos, a vida e falha, enfim, no jogo das palavras, a "merda" eh o que faz unico sentido? Os olhos em posicao fecal, vertem as lagrimas do que foi sentido, esforco estranho para quem ve a vida pelos olhos do contrario.

Qualquer um pode classificar com as palavras que queira. Nao poupem ha fartura de m....!,


om

sexta-feira, 29 de abril de 2011

PRIMEIRO ATO

Ridiculo, infame, blasfemia.
Os aplausos, nao sao para quem escreve, sao para os absurdos que se identificam.
Quanta inutilidade. Fatal, meu deus.
Reclamam porque ponho os pes em agua fria. E me da calafrios, e dai?
Escrevo.
Aqui, do fundo da cova obscura, que se chama alma, alma, alma,...reclamo do absurdo.
Inutil, quantas vezes, meu corpo implora desistencia.
(E choro, que absurdo. Uma mulher chorona).
Apalpam a vulva nojenta de onde extraem tumores, saem mucos amarelados - que nojo = a escatologia!
Cervantes, estante morta que ja nao diz nada.
Miguel dos Morros Uivantes, Dante - dantes tivesses morrido.
Procuro poesia em toda parte, apalpo a arte em todas as sintonias,
sintomas, abstinencia, amplio em microfones de alta resistencia:
soy fria, soy fria...
Diante de Davi, o corpo marmoreo, o copo frio esquenta a bebida...
Morfeu dos Anjos, Santos d'Agora deuses, mortos esquecidos.
Valha-me, o Deus que existe!

Desisto. Vou as armas, a luta ardente contra o sol que morre
e me anoitece (defunta ainda quente).
Desculpe, perdoname, excuseme....
Bailem dancarinos mariachis na praca do sol cheia de turistas.

Vago, lua, estrela, chao, calcada com licenca, primeiro os velhos
depois os estudantes.
No meio, bem no meio da caldeira fria, o corpo,
mentira....que esta tao presente, e nao descansa
na tempera, agua colorida, exprime cores mortas, entardecentes.
Ao baile, a aula, a presenca preto e branca de amigos
(tenho que construi-los, urgente) - mente, de novo, o corpo ausente.

Reclamam por que ponho os pes em agua quente.
e dai?, se os tenho frios, gelidos, pes de milus.

A cabeca altiva, sustenta ainda o pescoco esganicado
aonde explodem as veias,
as veias pulsam em cadena estranha,
corpo que me leva.

OM

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Harta

'As vezes eu sou gente, e gente do mais alto calibre. Que epxlode e que grita, esbraveja e palavroes soltos pelo ar explodem onde queiram: nas parede, nas latrinas, nas escadas, nas virtine;.sou tao gente, absurdamente gente...que ate consigo ser gentil quando mando facilmente tomar aquele lugar. Tao gente, assombrosamente gente que furo fila, alegando ser de melhor idade

Absolutamente gente que nao quero me esconder atras de falsos escritos, subterfugios covardes de ser. Gente. Atravesso sem pedir licenca e atrapalho o transito, o que nao e grande gente.

Diferente confessionario, espalho personagens aos cantos - do inferno, da ma-ed ucacao, do saco cheio.

Na igreja, pensando em pecados, na feira, pensando em passar fome. Que inferno, os precos caros. Na conferencia, bocejando e falando ao celular. Gente bruta, cavala estupida...

E que mais, que personagem mais posso ser? Alem de mim, esse mim assim austero, envergado e serio, posso ser palhaca, bebada, idolatra. falta e falcatrua.

Quando me canso de ser gente, vou ao parque ver cachorros cagando a grama.

Nao confundam gente com personagem....sou mais personagem..So sou gente dentro do meu quarto - grande mentira nas minhas contradicoes. Paradoxa.

OM
Compromisso
Te jurei vinganca:

fazer frases concatenadas e fugir dos precipicios dos sem pontos e das virgulas.

transfigurar paragrafos e escrever sonetos mudos: quatro, quatro, tres e tres...

um no fim, multiplicando o ja sentido: conclusao.

um fechando o outro, o penultimo voltando ao terceiro.



(versos livres? nunca! - e a maior das prisoes, e a pior liberdade.

comungar com extase as palavras extraidas do universo, expondo-as ao vivo e em cores,

ah premonicao do Diabo.

pois se: a cada verso livre,

mais se solta a minha alma).


OM
E o sliencio, creitim...o silencio que cala as vozes escondidas nas escadas, becos, corredores, quarto semiabertos. Os vomitos e os abjetos. Sinto pena, e os meus olhos fecham. Farta de segredos, descubro-me a olho nu. Nao, nao mais na frente do espelho, estou cansada. O espelho nega a minha cara, nega as olheiras e as rugas. Ele mente, enquanto eu desarmo o cabelo e ponho a mascara, a maquiagem.

Por enquanto busco a paz, mas ate ela me incomoda, sabe? A inquietude move a outros horizontes, e a gente segue. So. O unico sinal de estar viva e essa inquietude. A busca, diriam os filosofos. Bah! V~a filosofia. So quero ser, mas nao sei o que. Essa busca, inquietude, a paz que se instala vez em quando no dentro do vazio, movimenta as mascaras. Ando e ando. E ando mais. E nao me canso. Ate onde, nao o sei.

Dentro dos armarios vazios, gavetas escancaradas me observam....e a estrada. Dentro das malas interiores, as bagagens velhas, usadas em cenas passadas.

Subi ao palco descarada. La, me puseram umas algemas e me ordenaram "calada!" - ate a hora em que abri a maior gargalhada. Estava no palco da vida. Zombava.

O preco, bom, o preco e alto, mas quem nao paga???

Bjs.

OM

quarta-feira, 27 de abril de 2011

No castelo de Abrantes

No castelo de Abrantes

Num encontro nas escadas escuras, arranjado de antemao, os dois se...

Nas escadas. Um traido, outro traindo, seria assim? A situacao pode ser comum: encontros de meias-noites burlando camaras, espias e outros passageiros de andares....
ja vi tanta coisa em escadas: coisas deixadas, caca de cachorro, lencos encatarrados jogados ali nos degraus, displicentemente - entao, casais se beixando, em amassos ilegais, eu ja vi muitos.

Mas aqueles dois nao me pareciam estranhos. Desviando do comcubino testemunho, procurei nao olhar, subindo quase de olhos fechados os degraus escuros, mas aquela luz que acende e apaga para diminuir consumo de energia, me flagrou. Meus ollhos abertos para encontrar os degraus reconheceram o casal.

- Total silencio! - me imploraram com os dedos na boca, fazendo sinal de "shii!". Ok, nao vi nada, combinado tacito entre olhos.

Valentina, essa, entao, me ardeu em olhos pedintes de misericordia.

Nao se preocupe, Valentina, vamos manter o teu segredo.

Na manha seguinte, olhares vesgos, encabulados percorrendo paes, manteigas e afins do breakfast, de vez em quando cruzavam os meus cabisbaixos, sorrindo por dentro, tao compreensiva quanto eles vexados.

Degraus silensiosos ainda na manha cedinha, calados, guardavam os segredos, cumplices medonhos de amores clandestinos.

E, na pensao... tudo "dantes como no castelo de Abrantes".


OM

terça-feira, 26 de abril de 2011

'A "quem" (CARTA) - Leia e rasgue


Ouvidos colados a terra umida, forrada de folhas quentes caidas do outono, escutando o som da agua que corre pelas sarjetas da natureza, me ensinou a suportar o passaro que eu achava um chato (me acordava as seis, com sua sinfonia!). A entender o tato que seduzia o meu corpo liso.

A quem devo a graca do sorriso vasto, facil e escancarado. A arte de beber em publico. A arte de me deixar ser.

Contou-me sobre isso, sobre aquilo e aquilo outro, todos os segredos que o meu pavor desconhecia e ainda ouco o som da sua voz sussurrando coisas enquanto, sem vergonha, perseguia com os dedos ageis as esquinas encabuladas do meu corpo frio, triste - e me dizia "eres bella, eres bella, eres perfecta!" - e eu, flutuando nesse espaco vago de nuvens bulicosas que se nomeia desejo, acreditava
.
A quem dormia com o telefone colado a cabeceira "por si acaso" eu precisasse de ajuda nas noites em que a maldita insonia me atormentava...e levou embora todos os pesadelos, noites assustadoras, quando o velho colchao se revirava.

...uma vez cortei o dedo com a faca enferrujada com que te preparei uma comida asquerosa e te obriguei a engolir:

- "Te la hice Yo!"

Depois, perfurou minha rotina com outra faca e me roubou a arte.

Quase-posse, era o perigo. Corri ligeira e tropecei. O que sobrou de mim podes transportar em uma dessas urnas arredondadas e espalhar no chao, aquele mesmo que tu lambias, onde eu pisava.

OM

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Doidos


Estava perto de casa e levava o violao dentro da capa surrada de brim zul, uma capa improvisada, feita pela mae. Os doidos estavam todos espalhados pela rua. Doidos de paletos escuros, claros, doidos elegantes, mal vestidos, mendigos, executivos. Doidos pra todo lado. Doidos metidos a besta, doisdos endinheirados. Cozinheiros doidos, garcons malucos.
Gente que fuma (maluca), gente andando apressada (querendo morrer mais cedo)...doidos falando alto, doidos calados e soturnos, doidos escrevendo algos em guardananpos, doidos de olhar parado, encostados a postes, descansando em valas, nos colchoes das calcadas, tocando musica, fazendo instrumento, loucos por sexo, doidos amarrrados a algemas e encarcerados, doidos na academia modelando o corpo magico para fazer doideiras...

- Doidos, doidos! - ela pensava.

Tirou o violao de dentro da velha capa, sentou na beira da calcada, na entrada oeste do metro, afinou um pouco as cordas de nylon, tossiu levemente para limpar a garganta, ensaiou um la menor e comecou a cantar, e as moedas, os doidos jogavam liberalmente no chapeu estendido sobre a calcada.


OM

sábado, 23 de abril de 2011

Sesamo


Esta fechada a porta
Aquela que a toda hora abria
Aquela aonde o amor levava
Aquela onde o amor sorria

Emudeceu o som da fechadura
O ruido oco que o sol sabia
- e se escondia -
na cumplicidade do amor tardio

Em frente 'a escada,
sentada, ela aguardava
as maos que outrora abriam
...e fechavam...e abriam...
A velha porta enferrujada


Om

tes/tat/esq/al amor


eu morrendo
eu chamando
eu em testamento

sombra do terceto
peca unica do teatro
onde mortos se empertigam

ressurrecta esqueleto

embuste
imbecil
tartaro
e barbaro

deixem-se
cobras e lagartos
taturanas

nao me veem morta
esqualida,
disfarcada em verme..?

disputem
o luxo da mia carne
deixem-me (depois)

! a so!

sou revolta,
egoismo
futil e desvalida
cao sem dono
apenas sonho\
e desejo intenso

meu corpo,
o corpo denso, terno, meigo, avanco, tenso, avesso, fraco, desusado,
a tudo que nao seja tu

om

sexta-feira, 22 de abril de 2011

penumbramente


Nao sei o que me da,
o que me deu.

Passo pela arte, na esquina,
na face da vitrine,
e nada vejo.

Nao sei que marasmo me atacou
que vento ou ventania me levou...

Tarde, noite, meio-dia,
e o vento sibila quieto ao meu ouvido.

Entardecendo lenta,
evoco deuses, nao!
Nao quero deuses, nem tampouco\
luas, nem desejos.

Deixo-me assim:
penumbra quieta,
anoitecendo em vaos.

Talvez me queira assim
ou talvez nao -
quem vai saber?

Apenas, quieta,
desarmada,
desfruto ser


...tao pouco o tempo.


om

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Repartindo o pao


Faco anotacoes e aspiro um pouco da asfixia. A ausencia de acontecimentos, de noticias, me emudece?

Mas o fogo arde ainda, devorando o silencio compartido contigo.

Fugindo do desconforto, caminho pelas "calles" de Madrid procurando o rosto, dissimulando o meu atraves de vitrines cheias de coisas atraentes, vidros embacados pelas ardentes fumacas espanholas.

O vazio promete-se fertil - e a esperanca. A atmosfera eletrizante me leva, estranho, a uma especie de retiro interior. A obsessao da personagem contribuiu tristemente para a consumicao de um ego. Pelo menos eu era ela. Agora sou personagem vazia de corpo. Agora, so os olhos, so os olhos, resignados no olhar para dentro.

Encontrei dentro da mochila uma receita, escrita a mao, de sufle de chocolate:

- 1 barra de chocolate amargo
- 1 barra de chocolate ao leite
- 5 colheres de acucar
- 2 colheres de manteiga sem sal
- 4 ovos, gotas de baunilha, etc...

Dividindo o pao amanhecido, nos amamos com esses olhos que a terra ha de comer - o pao que o diabo amassou? Duvido, e continuo a caminhada.

OM

segunda-feira, 11 de abril de 2011

En passant


Embora longe, estou perto. Agora, além de burra, sou esquadrinhada na mesa fetida servida ao bando de gavioes que me cercam. Pensaram que eu, euzinha, era rica, e, isto posto (rs), começaram a me assediar. Faz tempo que me assediam. Com as caras lavadas, bocas escancaradas (maior...esforço para rimar sem letras), me assediam!

São fantasmas, não posso dedurar, chamar a policia, nem pedir socorro ao filho.

São fantasmas na noite (serena...) que querem calar minha voz de dentro.

Ouço ruídos, vejo vozes - ai! Que barbaridades! O passado voltando, coisas assim levianas como o vento do ex-outono, sei la..tanta doideira. Vou virar fake, ah!, vou. Preciso ir a montanha, ou a montanha não vira a mim.

O parto fácil virou uma montoeira de absurdos! isto é minha palavra agora. Passo batida (mais um clichê), e transmito o que? Absurdos! já disse. Nao faço falta, no echo de menos, no digo nada, mas sempre passo, por aqui.

"A mesma praça, o mesmo banco..." Comigo os fantasmas e as velhas musicas.

Confesso saudades.

sábado, 9 de abril de 2011

A luz do sol se apagando


o sol se apagando
o vento amarrando
o espelho quebrado
o bem e o mal
o no decifrado

as magoas calaram
as dores pesadas
carrego em malas
arrastando-as a toa

buscando
buscando

por mais que eu queira
(nao quero, imploro)
chorando
chorando

por mais que eu chore
entanto...
que chore, que chore
a festa da vida
se esconde

tenho um escalpe
por dentro do cerebro
por dentro um molho
de cobras ruins

e ainda o corpo
resiste ao dano
a carcaca, o veneno
que resta de nobre
nao,
nao ha quem chore por mim

OM

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Valentina


Valentina nao e uma moca comum. Nao e uma qualquer. Trabalha desde os quatorze anos de idade, e isso ja faz bastante tempo. Levanta cedo, arruma os quartos da pensao que preside (sim, e quase uma Presidenta!), faz comida para o filho de nove anos, lava toda a roupa dos hospedes, separa, enfim, Valentina faz tantas coisas que nao sei como da conta.

Esta namorando um homem mais velho, nao tao velho quanto um anciao, mas um senhor maduro, de boa idade para ela, brasileiro, o gajo. E vai levando a vida como quem dirige um tanque de guerra. Aqui, na pensao que ela preside, ha habitantes de todas as partes do mundo. Entao, por supuesto, Valentina fala todas as linguas, numa miscelania adoravel a que sempre acrescenta um sorriso largo e de bons dentes.

Valentina me contou um pouco a sua historia, prometi que nao postarei nas minhas escrivinhacoes no orkut. Ela quer sigilo. Estou cuidadosa com a minha proxima personagem.

So este desabafo em off:

"Ele acorda cedo, poe o roupao atoalhado, le o jornal, toma banho, o "desayuno". Esta tudo perfeito. Eu nao, eu sou um furacao.

Ele - diz ela, senta-se ne frente do computador, ri lendo as mensagens trocadas durante a noite com outros homens maduros, solitarios - geralmente piadas sobre mulheres, enquanto fuma um, dois ou tres cigarros, e peida. Nao, eu sou um furacao. Passo com a aspiradora por cima das pernas dele, limpo a mesa com furia, lavo o banheiro, faco tudo enquanto ele continua la, na mesma, na mesma, na mesa.

- Ah, por Dios, hoje vou arranca-lo daquela escrivaninha, vou mandar que ponha os dentes, faca a barba, passe perfume e creme. E, por favor, nao me venha com aquela velha camisa, que compre uma nova. Quero ir a bailar."

Vai, Valentina, vai. Ja es minha.

OM

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Revisto - texto sóbrio


Eu sei, darling, que não sou a única, nem tampouco a primeira a escrever em guardanapos de papel. Embora eles (os espiões, o povo da KGB – porque isso só pode ser perseguição ao poeta de plantão) tenham inventado uns guardanapos tão fininhos que tem um lance legal, que é o seguinte: o que você escreve passa para o outro lado, como quando você limpa o batom da boca. Então é como carbono, entende? Escrevo e desenho num monte de guardanapos, depois enfio-os na bolsa e em casa tenho gratas e ingratas surpresas. Os garçons ficam curiosos e esticam os pescoços para ver meus desenhos fantasmagóricos que aprendi com Iberê Camargo e já me chamaram até de gênio. Dai tive que assinar o documento e ofertá-lo ao elogiante, de forma solene e um pouco esnobe tambem, dando uma de Picasso: assino os guardanapos e dou de presente. Erro crasso, pois Picasso vendia.Completamente diferente, mas... nem sou famosa nem nada...Se alguem me chama de genio essa pessoa merece um premio. O último texto que escrevi num guardanapo foi o seguinte: "Protuberências orgânicas e patéticos disfarces na tarde encalorada. Espectros comem e bebem. Engordam e passam fome. Desertam-se e buscam-se nas aventuras. Sinto uma mão fria entre as orelhas. A boca engole." Juro que escrevi isso. Não tenho a menor idéia do que se trata, nem tampouco o que um garçom iria fazer com essas escrevinhaçoes estranhas. São os guardanapos; Eles me provocam algum tipo de surto, uma coisa indescritível.



"

Desisto. Solenemente.
Acabo de limpar o nariz com guardanapos, e não estou entendendo mais o que faço. As nobres missões a que me propus foram duramente criticadas. Agora sou apenas mais uma de ressaca? Não, sou inocente. Estou esperando desde cedo, com minha big bag na mão, na frente do prédio descascado, e ele não vem. Não é o pai dos meus filhos nem responsável pelo prato de cada dia que me cabe, então...., que faço?
O domingo arrasta-se bem na minha frente. São os estertores de uma tarde morna que avisto adiante. Tenho ensaio, sou artista. Vou dizer aqueles versos do Renato Russo sobre o amor, aquele que ele misturou com a 2a. aos Corintios. Tenho violão para me acompanhar, tenho um fardo. As notas dissolveram-se no sol, e eu espero ardente. Ficou ou não?

domingo, 3 de abril de 2011

Calada


As vezes me calo. Nem sempre, e raro. Mas mesmo calada, olhando pra dentro, continuo escrevendo. A magica das palavras me fascina e sigo escrevendo em guardanapos imaginarios.

Como um postal, uma letargia sem nome, fico a pensar, a olhar nuvens, e me sinto inteira: nao mais pressagios, pesadelos, desventuras...estou feliz. E isso me basta. A qualquer um basta ser feliz. E me calo diante da vida que gostaria parada nem que fosse esse dia, somente este, para eternizar o silencio. As teclas me aguardam sem ansiedade. Sei que voltarei a escrever um dia: talvez uma longa carta de amor a vida, uma longa "missiva" onde conte minhas aventuras, talvez volte ate a falar da minha Macabea.

Entretanto, cheia de uma felicidade onde mal me caibo, por puro egoismo, me calo. Por estar ausente, me calo. Por estar feliz, me calo. E apenas os velhos guardanapos voam em minha mente, como um passado remoto que foi ontem. Ah, creiam, estar feliz e o absinto da alma.

E enquanto dure essa felicidade vou me quedar calada, ouvindo as vozes que vem de um distante bar que comecou varas historias...

...mas nada e para sempre.

Talvez manana, quien sabe?



OM.

quinta-feira, 31 de março de 2011

DELIRIOS DE DULCINEIA


Aqui estou na terra de Cervantes
Embora fraca de saude e de ma vontade
O sol me abencoa na mesma cidade
Onde outrora morreu o valoroso Sancho

Na santa ignorancia que me alumia
Vejo ceu, cores, nuvens e passantes
Eu, que nao mereco tantas regalias
Sinto-me curvando ao peso da Historia

Predios silenciosos parados em moldura branca
Gordas pombas em arvores primaveris
Estarei louca, ou coisa que o valha? -
Pois vejo Sancho bem na ponta do nariz


OlgaMota



"Ah serrana, serrana; Malhadas, Malhada; por que foges tu? e como andas estes dias coxeando! Que lobos te espantam, filha? Nao me diras que e isto, linda? Mas que pode ser, senao que es femea, e nao podes estar sossegadda? Mal haja a tua condicao e a de todas aquelas a quem imitas. Volta, volta, amiga, que se nao estiveres tao satisfeita, pelo menos estaras segura no teu aprisco ou com tuas companheiras, que se tu, que as has de guiar e encaminhar, andas tao desencaminhada e tao sem juizo, onde pararao elas?"



(Dom Quixote de La mancha, de Miguel de Crvantes, pag. 567 - II volume).

quarta-feira, 30 de março de 2011

sem acento...[

Nao deem por favor muita importancia ao que a Macabeia escreve. As vezes fica meio lunatica, quando sai a passear com cachorros. Sim, porque na Europa e chique passear com cachorros e macabeia viu um filme do woody allen e se apaixonou pela mocinha que passeava com os cachorros e acabou se casando com um velho. Desde entao, a moca vive meio pirada, sacudindo os cabelos dentro do onibus e enchendo de caspa os casacos dos velhos senhores que estao sentados no banco de tras.

Tras um casaco em forma de lua e, de vez em quando sai pela rua em busca do ocio que deixou em casa...volta, volta e meia ve a lua pela fresta da janela. So, impaciente, dedica-se ao coco dos cachorros com muito carinho e afeot. E brega, como nao? E brega sim e nao abre mao disso. E uma questao de saber as origens e nem tra la la pras origens.

Dizem-na louca e dai? Nem liga, vai importando coisas do chines e aprendendo mandarim. Segue o curso da vida como uma estrela cadente (sempre em queda).

Ai, pobre Maca, como fazer com teus desvarios alucinados no meio da noite, quando a tua companhia e apenas o sofa de dois lugares?

Tenho que partilhar sua loucura e apascentar os demonios que a perseguem durante as penosas noites quando acorda apesar dos comprimidos, pastilhas, chas e cigarros de machonha.

Leva-la a passear, e a palavra....Vamos, Maca, me acompanhe. Sigamos juntas essa estrada que e a loucura que se apresenta. Vamos, nao tenhamos medo, afinal de contas, ja fomos uma so.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Treinando sem acento


A prosa


A moca escrevia com todos os dedos das maos no aparelhinho que tinha um nome estranho, eu a observava: os dedos ageis, os cabelos acompanhando o movimento dos bracos e dos olhos que percorriam o papel. Era uma cena interessante. Ao seu lado parado, preso a uma coleira, estava um cachorro, Sem motivo aparente, o cachorro olhava para mim e rosnava num ruido ameacador.Pensei em levantar e ir embora, mas depois resolvi enfrentar a fera. Resolvi rosnar tambem, mas nao queria, obviamente, que alguem observasse a coisa e pudesse pensar: e louca,

Entao, matreira, coloquei o jornal cobrindo o rosto, e, de vez em quando devolvia os roncos do cachorro bobo com caretas horriveis, silenciosas, porem. Essa diversao inocente veio a causar a maior confusao na espelunca. A moca, que nao podia ver, de onde estava sentada, o que causava a estranheza no cachorro, puxava a coleira e dizia em alemao: para, Tutu.O bonitinhho comecou a ficar furioso e passou do rosnar para um latido estupidamente forte, e que provocou reclamacoes de parte dos clientes que estavam ali tomando suas cervejinhas, seus cafezinhos. Mas ninguem podia ver o causador do barulho todo, pois eu estava bem escondida por detras de uma mesa de canto e o jornal.

Enfim, a moca teve que parar de datilografar (no meu tempo se chamava assim), recolher o toto (tutu), as coisas dela todas, pagou o cafe e saiu arrastando o cachorro furioso que nao parava de olhar e latir para mim. A essas alturas, para nao ser identificada, parei de fazer caretas. Eles sairam.

So assim pude tomar minha cerveja em paz, porque afinal, nao gosto mesmo de cachorro rosnando perto de mim, apesar de isso ser um fato raro, ja que os cachorros, normalmente, gostam de mim. Troco afagos ate com cachorros feios e fedidos (quando quero conquistar o dono)...Mas esse nao sabia brincar; talvez eu deva saber um pouco mais sobre cachorros, treinando. Nao cachorros, mas seres humanos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O medo, até quando? Quando aprendemos coisas que nos viram monstros, os monstros nas mãos de um Deus cruel, inventado em palavras duras e secas. Castigo, dores, pagando o mal que fez, o mal pelo mal, temor e medo - diferenças sutis nas entrelinhas. Eu preciso do meu Deus de volta, mas só da Sua bondade, talvez do Seu perdão e preciso me confessar. Dizer: meu Deus, até, até..quando? E nisso não está um pedido de sentença, nem de piedade, eu só quero saber se Ele ainda me dará forças para continuar a vida, pra tocar o barco, pra viver o amanhã que seja. Estou desesperança. Estou cansada.
Às vezes, sou assim mesmo: entrego os pontos. A Deus.
Deixo a sala branca imaculada

Como as lembranças vagas

Que vou deixar de mim.
Abelhas de Atenas, o verso que não sai de mim, apenas surge e vai se esmaecendo na manhã dourada. Os rostos espreguiçam, os sons calados depois de uma noite pesada, a preguiça em tocar o fardo pra diante.
Olhos pelados, lavados de água gelada, as mãos ainda emurchecidas pelo frio, todos tocam o dia.
Como se foramos para algum lugar, pegamos as coisas, pertences, e vamos. )Pareço viver um pedaço de passado. Uns dejá vu...Seriam).
Por debaixo das roupas surradas, os tênis amarrados frouxamente, os calos apertados por esparadrapos - metrô, trem, estação, ônibus. É mais um dia-a-dia-a-a-dia.
Rotina dura à espera. São meninos, velhos moços. 
Gentes. Sei que é isso. É sem sentido.
Antes que a tarde chegasse, vestiu o vestido verde (sabe, aquele?) e saiu. 
Tinha na mente as obrigações do dia: comprar pão, leite, margarina, café. Seria depois o almoço, o lanche das crianças, a escola.
Antes que a noite chegasse e era seu turno de novo: lanche, crianças, roupas na cama.
Na madrugada, atravessada por uma dor intensa, decidiu ir ao pronto socorro. Foi.
Lá a detiveram por três dias e três noites que não nunca chegaram.

Maria Ninguem
Ñem me espanta mais o teu olhar atravessado, enviezado, como se fosse um animal a ser domesticado.
Nem me espanta se me olhas com teus olhos tristes e ensimesmados.
Deixo que tu chores, pois agora,
un poco tarde,
Maria és muerta.


Maria Nadie
Consumiu-se inteira e saiu descontrolada pela contramão.
Foi atropelada. 
Ali mesmo jaz.
Seria apenas mais uma história, se ela não fosse quem ela era.


Maria Ninguem
Havia sim, senhor, uma mulher: era ela. Você não sabia que se ela soubesse escrever não escreveria assim tantas tonterias...pura tpm, coisas de mulheres novas?

O destempero, a gana por chamar a atenção "eu aqui!".

Maria agora já é uma senhora. Já não precisa mais disso.

Que tal, Maria, se todas pudessem viajar para a Europa?



Maria Tudo
A amiga veio e ficou na sua casa por alguns dias. Totalmente absorta nas atenções, nos cuidados com amizade zelosa, cuidou da amiga com carinho .
Sentia falta de amigos, ali naquele lugar tão cinza, tão escuro, frio...
Vai sentir saudades, Maria?

Maria Ninguem
Apenas não me falte
Apenas, tão somente,
A mim, que agora sente
A dor de uma alegria pura
Por favor não me delete

quarta-feira, 9 de março de 2011

Passou o carro da policia a toda velocidade. Os guardas, armados, com as escopetas (sei lá...como se chamam aquelas coisas assustadoras) apontando para onde eu estava. Não sei se estavam me procurando, nem o crime que cometi, mas o fato é que, por via das dúvidas, me meti rapidamente embaixo da mesa.
Nesse mesmo lugar aconteceram fatos interessantes comigo. A história do spray de pimenta, a história do engraxate...agora essa:a polícia mirando a minha pessoa insignificante que nem crime sabe cometer (se bem que tenho aulas na tv todos os dias).
Passados os trinta minutos suficientes para ter certeza de que eles não iriam atirar, saí com as mãos para o alto.
- Tou limpa, tou limpa! (aprendi tambem na tv).
Os guardas mandaram-me de volta para debaixo da mesa. Fiquei lá por algumas horas. Mas minha amiga garçonete (Lady Dai) supria regularmente o copo de cerveja, discreta e, como sempre, mui atenciosamente.
O chato eram as baratas que insistiam em passear pelo meu corpo, eu, logo eu, que sempre tive pavor de baratas. Ficamos amigas nessa noite, eu e as baratas, e os guardas foram embora levando o sujeito que estava sentado na mesa ao lado, que mostrou muita resistência se dizendo inocente, inocente, inocente!
Hoje é um dia, apenas mais um em que me deito e me livro dos pesadelos. A noite agônica deixou-me a lembrança para um dia triste.
Desistir é um evento estranho.
Desistir é um ato de coragem (eu li algo assim na Clarice, foi na Paixão). Não me lembro exatamente o que ela dizia ali sobre desistir, mas era forte e doído. 
Disse para um amigo: desista. Ele respondeu: - mas é um ato de covardia.
Não concordo, completei. 
Desistir é um ato de coragem, tão completo que chega a ser insano. Um ato de desistência consciente, maduro, fiel a qualquer coisa que seja: convições profundas, princípios, inventa-se aí qualquer coisa que tem que ser verdadeira, tem que vir do fundo. De um coração apertado pela dor.
Sim, desistir dói.
Doía.
Hoje tenho tanta coragem que já nem decido por mim mesma. Parece que vou, apenas levada pelas ondas que desistem de ultrapassar os seus limites.
Mas isso sou eu hoje, desistindo de você, amanhã não sei. 02/03/11 de

não sei mais teu nome



Nem de onde vens.
És húngaro, idólatra?

De onde saem as imagens
escaneadas,
falseadas do teu nome...

Fake!

Nesse mundo cibernético
sinto-me afim
Preciso de verdades
De novo a mesma história: eu, o vinho, o teclado.

Falar de solidão, que asco! Que sem sentido é se dizer sozinha, tão acompanhada, tão cheia de gente...volteando ao meu redor, escrafunchando minhas entranhas,

estranhos fados
escuta a minha voz calada.

Dentro de mim, um anjo?


Dentro de mim, um anjo? 

Passei na padaria, estavam os de sempre e outros mais raros, como o homem corcunda que às vezes vai comprar cigarros. Sei de tudo que se passa ali, como eles sabem de mim. O leite, o pão, o refrigerante, a tv ligada, silêncio - é uma padaria quieta.

Nesses dias resolvi voltar a frequentar a padaria. Deu saudades das palavras que voavam e eu as captava com empenho. Isto é do tempo em que resolvi escrever um livro e captava mentes.

Mas nesses dias não tenho encontrado nada. Talvez a fatal descoberta: está tudo dentro de mim. Volto a pensar como "É" escrever um livro. Pego as centenas de páginas escritas e impressas para o meu próprio gosto e vejo o desdem com que trato as palavras. Elas se vingaram. Saíram de mim num voo largo em direção às mentes que agora, em sentido inverso, captam-me. 

Virei vaga e noturna novamente. Silenciada.

Homens já não me admiram, as mulheres, não sei o que fazer delas (estou falando das minhas amigas). De repente, sem palavras, sem homens nem mulheres, fiquei só.

Não sei mais como as coisas aconteceram. Havia esse anjo aqui dentro voando, agora, calado, me instiga e me deixa deserta. Um demônio.

om 02/03/11

domingo, 6 de março de 2011

........

e enquanto o fósforo aceso, ardia ainda,
ela, dura, tesa como uma rainha
esperava o fogo, fátuo, apagar-se:
a pira.

há mistérios num enterro,
ai, se há! não se sabe quem se enterra
se é o morto,
ou se é o seu olhar...

(quem vai me olhar agora?)


..............................................


esse que ali estava
com seu único terno
(e listrado, tadavia),
era seu pai, rapaz,
irmão, tio ou marido?

fez as vezes, foi às fezes...
misturado à relva fria
pobre homem (sem cabelo)...

restava agora a doçura
de um olhar fechado
em pálpebras amarelas
satírico, tosco,
era o marido que era.

................................

enterro ficcional, simbólico, anistia!!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

danem-se

arrancar-te
derrubando 
os alicerces
asas que fincaram
raizes nesta casa
surrupiar teus versos
apagar estrelas
que brilharam 
sobre o mesmo teto
onde estou suspensa
de castigo e raiva
os destinos
que nos prendem
foram-se
como alcatrazes
prendem a seu amo
o escravo
desfaço-me 
de tudo que te lembra
que te vai 
e que te vem
esse destempero
essa esperança
dane-se
quem queira
os destroços
destes teus
farrapos  
e angústias
do que não deu certo
danem-se os bardos
que atiram
a força dos seus
dardos
seus dedões
enormes
danem-se
ai!
apenas a dor
e o desasossego
dos calos
nos sapatos
ardentes
das calçadas

olga mota

lá no Reino de Afrodite"


Os velhos tambem beijam
(Os brutos tambem amam).

Os velhos tambem amam
Pagam mico, fazem drama.

Os velhos fazem dramas.
São aflitos, sentem pressa

São aflitos...sentem pressa...

Na alma se levanta o grito:
Estarei, amanhã, vivo
Sepultura?

Das Cinzas das Palavras



....................
O estômago revira-se e
As palavras sangrentas,
Esquálidas... se acreditam!
Vorazes verves desabrocham
Em despertares roucos...
Pobres loucas - se acreditam!
Eu, que tenho consumido o tempo,,, 
Ele agora me sufoca, desfaz camas,
Aperta o cerco e me provoca azias.
E num ritual de pacto com o vento,
Espalho em frêmitos constantes
As cinzas das palavras que vomito. 

Olga Mota, jan/2010