sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

memórias

Sei que pode parecer estranho, mas não tenho passado.
Fui achada no meio do nada, e, ainda, dizem que apareci.
Talvez uma estrela cadente, a calda de chocolate quente;
(eu ia dizer calda do cometa, mas isso está muito batido).
Nao importa, eu não nasci. Apareci no meio do mato e na
nuvem que o céu importava de vez em quando e molhava
a terra ardente, de secura ímpar, de trabalho duro, enxada.

Apareci onde não tem água, pote e sede que matava. Lembro
apenas da cacimba, tepidez forjada na madre causticante.
Não me lembro de mais nada. Sim, não posso ser injusta...
Lembro meu paim num palanque, bruto e seco como outro
nordestino. Dizia coisas do tipo "não sou santo mas prometo
trazer chuva, muita chuva...coisas assim impossíveis. Não me
lembro de berço, bonecas ou brinquedinhos. Era dura minha
infância, no sentido de que não tinha um sapato, não, naõ me
lembro.

Sei que pode parecer bizarro, mas o trem, sim, eu me lembro
tinha um trem que fazia a volta no meio da casa: não, isso não
pode, não sou santa - não posso trazer o trem para dentro de
casa. O sofá era um banco de jeep, de época passada, guerra,
talvez - vou saber? Não me lembro de nada. Ah, não querendo
ser injusta, novamente: me lembro de redes e penicos e coisas
que os valham. Que raro! Lembrar coisas que sabia que não 
lembrava.

Aparição. Sempre saía de "nossa" senhora na procissão. Sim, eu
me lembro. Quê mais? Bom, depois que apareci, eu não chorava,
Nunca chorei. Mas, como? Se bem há pouco estava a derramar
as lágrimas que matavam a minha sede. Sede. Não me lembrava
essas mágoas. Não sabia que a sede estava dentro de mim - a
sede incrustrada. Cresci, vivi e morro na sede de um sertão bravo,
esquecida num canto da sala. Mas, insisto, não querendo ser injusta,
renegando o peito que me amamentava: Não tenho passado.




olga Mota

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ano (novo?)

desdobra teus lençóis

desesperança

que de novo não tens nada

vens com a mesma caduquice

dos velhos anos passados


eu te espero como o véu espera a noiva

ludibrio sentimentos

sei, entanto,

que de novo não tens nada

Dança

Foi dança colada, dança afastada, os pés-de-valsa se enfileiraram.

O sol raiou e eu ainda estava dançando.

Os garçons retiraram as mesas, a orquestra calou...

Os pares foram embora,

E eu dançando...

A bebida acabou,

A festa acabou,

Tudo acabou, e eu...

Dançando.

Nunca vi uma coisa assim: dancei tanto que fiquei zonza. Foi tanto salameleque nessa dança, nunca vi. 

Tanto que nem senti falta dos sapatinhos vermelhos. 

(A fada madrinha atiçou a vara e me cutucou com ela). 

Perdi a corrida da carruagem. No salão enorme, dançando.

O príncipe trouxe o sapato, não coube.

Ele bufou "não se fazem mais princesas como antigamente". Nem dei trela - continuei dançando, sem sapatos.

Que importa se não sou princesa, mesmo sabendo que os sapatos não cabem nos meus pés, e até o príncipe foi embora, a bruxa engoliu os dentes, os sapatos não se fazem como antigamente, tenho que lavar e engomar a roupa da madrasta,
tenho que catar feijõeszinhos na estrada, piolhinhos nos cabelos do meninos, tenho que escrever poesia, contos, textos e outras alfazemas, se não sou do tempo de agora...quero uma valsa!

- Vamos dançar?


OlgaMota

hirsuta


no seu passo duro
metálicos sons
saltam dos sapatos

essa é ela,
aquela que
hirsuta
despedaça pelos

OlgaMota

sei lá...


Enfim, o mistério soluto. Já consegui provar que não sou fake (será...). Mas a incógnita continua: como funciona um bar? Imagine a cena: pessoas entram, saem, bebem, bebem, entram, saem, bebem, bebem. That´s a bar. O que uma pessoa séria como eu estaria fazendo num bar, tarde da noite, a não ser procurando me divertir um pouco? O que seria um reduto de alegria parece um velório ou calvário cadafáltico onde a primeira cabeça que aparecer vai rolar, vai ser decapitada: "gostado"..."muito fraco"... "insípido"..."decassílabo fraco"...onodeocasilábico muito fraco"..."fã" "up", sobe", thchan tchan tchan e tchan tchan tchan..."adorei, gostei, amei!", "prefiro o anterior"...
Claro que não descarto a possibilidade da seriedade (olha a rima pobre). Nem tampouco o fatídico lugar-comum, que não se sabe mais com hífen ou sem. Não cogito nem de longe perturbar a solidão alheia, por que a mim ja me basta a minha, nem pretendo ser engraçada porque isso nem de arremedo sou.
Não consigo fazer longas dissertações sobre ânus, assunto tão desejado, idolatrado, salve, salve! Up na certa.
Mas estou no bar. Já é um pouco tarde de sábado. Não vejo ninguem. Não é dia de velório. É dia de rua, de cinema, de teatro, de tv, a mulher proibiu "sábado e domingo, nem pensar!" Isso pode destruir um casamento. E, pior, o que eu disser aqui estará dito, never more até 24 horas depois vou poder falar de novo. Enquanto isso as provas se acumulam, a defesa se retrai e eu continuo suspeita.

OlgaMota

Até amanhã


Então falemos. Não faço poesia. Não consigo fazer rimas e ao mergulhar na tinta do papel minhas asas partem-se. Sou duas, afinal. Uma ao teu encontro, e a outra...? Não sei. Leio os poetas e me emociono. São tão doces, os homens. E as mulheres tão...tão...viril, virizes, como dizer o feminino de viril? (já sei que o Luiz Carlos vai dizer que é virilha), quando de forma nada sutil se referem ao membro masculino, My God! Houve um tempo de Rei Tamuz, deve estar voltando a era.
Enquanto isso, no castelo de Lindalva, a feia Clarice desfazia as tranças de Carol.
Todas muito feias, horrorosas, porque a feiura é cult.
Ainda bem que estou aportando num horizonte azul, lleno de cavalheiros que foram abandonados no castelo que foi de Lindalva, ou foi da Suely, ou da Clarice.
E eu me perdendo no meio de tanta fragilidade, com minha fala amarga e minhas vísceras encarnadas.
Juro que a partir de amanhã eu serei outra, juro. Perderei essa secura, não serei ácida nem cruel comigo nem com mais ninguem. Apenas uma imagem leve estampada na calça jeans de algum garoto abandonado, ou uma tatuagem de borboleta numa bela bunda. Posso ser o que quiser, disseram (quem leu o "O Segredo"? - eu não).
Tentarei falar de amor. Serei corderosa, leve e light e vou procurar uma nova embalagem de aluminio para mim. Juro. Ate amanhã.

OlgaMota

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Figurante


entre os dramas
comédias e atores
eu fui a rena
o trenó
as cabeceiras
as fogueiras
que incendeiam
o solstício

a larva da serpente
a calda de limão
o céu ardente
na noite escura
amante esquecida

fui a trama
urdida ao tempo vago
à cabeceira da cama

um amor bastardo
talvez eu tenha sido

OlgaMota

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

...

Por que você me disse aquelas coisas horríveis, serenamente, olhando na minha cara, deslavado? 

Por que não disse às escondidas, como outros fazem, ou escreveu na porta do banheiro, ou não usou meu batom encarnado no espelho do banheiro, hein?

Porque não pensou três vezes e me mandou um email? 

Nada, nada pessoal, você disse. Como assim, nada pessoal? Não foi meu nome, não foi minha foto, não foi minha cara que você estapeou, minhas roupas que você tirou e que jogou ao chão?

Não foi quem me deixou no meio da rua, nua e descalça, com todos aqueles olhos enormes, os olhares secos, me olhando?

Não foi assim da última, da penúltima vez?

Onde arde essa ferida funda e desumana que habita tua língua, tua garganta, dói. Inseto. O ódio que te tenho agora é maior, muito maior do que o texto macabro assinado com sangue no teto do meu carro. 

Subi toda a rua arrastando as mãos no chão imundo, pedindo cinco centavos a quem passava. 

Errei dez vezes o endereço, perdi o bandeide que curava meus calos, arranhei a testa e revirei os olhos até perder as lentes de contato.

Vaguei sem perdão aflita e descabelada, imunda e sem lentes de contato. Isso. Com toda a miopia me cerceando os passos. Por pouco o caminhão do lixo não me levou.

Gostaria que eu estivesse como Estamira agora, não é isso? É o que você deseja, é isso, é?

"de fazer livros, os homens já estão cansados."


Já tenho prontas orelhas e dedicatórias.

O livro, no entanto, foge.


Talvez um desenho na capa:

Três mulheres desfeitas,

muito rouge e melânias.

Flores, algumas espalhadas no canto esquerdo do quadro:

Eu, minhas duas irmãs e um calvário

servindo de cenário.


Mil folhas (aquele doce) repletas de formatos e açúcares mascavos.

Será doce e salgado, destemperos delicados.

Sentimento e nostalgia, raiz forte.


Outro livro jogado na estante,

inútil serventia aos desavisos, derivado do sorteio de palavras.


Com inúmeros esses e cedilhas,

boleros e traços de riscado.

Pontos-de-cruz, claro!: a frase grande, mordaz, bordada ao lado.


Se pegado com esmero talvez não se desmanche.

O papel manteiga.

A capa com enormes dobras, de cor preta.

Ao fundo, um dromedário.

OlgaMOta

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma das histórias de mim


São várias as histórias que tenho sobre mim.

"Mim" sou eu.

E "mim" está sempre insegura, hesitante, claudicante mesmo, diante da possibilidade desse mim vir à tona e estragar tudo.

Como um leão à espreita, "mim" não sai de perto e não dá tempo para o raciocínio lógico. É temperamental e turbulenta, alem de ser capaz de peripécias inacreditáveis em torno de alguem que dê chace, isto é, alguem que não esteja permanentemente de sobreaviso. Ataca, mata e fere com a língua ou com os outros órgãos capazes, como o coração.

Saliente, indócil e infinita, "mim" mora dentro mas está sempre às avessas. Isto é, do lado avesso, ela aparece nas horas mais imprecisas. Do tipo "surpreeesa!!!!""" - "mim" avança tal e qual um cavalo galopante e cai de quatro em cima da mesa, e grita, e até bebe demais.

É impossível conviver com "mim".

É uma tela, às vezes uma boneca, às vezes uma poesia. Tantas outras tem sido e causado tantos problemas, "mim" não sai de perto de mim. Perseguição implacável, "mim", minha maior inimiga e amiga única, não desgruda. Está sempre comigo, e embora às vezes eu a deteste, odeie mesmo - do fundo da alma - ela está sempre ali...à espreita, ela e seu coração bandido me pregando peças.

Mim.

...


Mim, quando sai, na maioria das vezes, desaparece. Torna-se transparente, etérea, vira uma flor, ou outra coisa escolhida por ela.

Mente, mente e mente.

Olhos nos olhos, lhe peço. Nada, nem uma palavra, Mim se aborrece.

- Vai ficar calada para sempre!, mas só hoje, diz com boca zombeteira.

Tenho que rir no espelho...Mim me atordoa.

Espero perdê-la por aí, até mesmo, no auge do desespero, pois sim...ela me desespera - nunca mais ver a cara dela. Não gostei nadinha do que ela me fez ontem, logo, não vou perdoá-la assim "de fácil", não! - vou endurecer com ela e chamá-la à razão:

- Mim, você precisa ter sentido.

Olgamota

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Versos Húngaros


Fiz um verso bobo, doidinho
Joguei na rua em cima de um bueiro
Daí veio, incrível, uma barata e roeu o verso inteiro.

Do desperdício do meu verso zombeteiro
Jurei de novo, again e novamente:
Nunca mais farei um verso bobo.

(Nem direi ao pó: ouvi estrelas,
nem à terra: vou virar semente).

De hoje em diante toda a minha escrita,
Balada, tombo, arruaceira,
Serão sérios, medidos e controvertidos
Não serão mais essa, essa, essa...besteira.

Vou fazer dos versos minha vida
Vou levar a sério e medí-los,
Um a um, na trena, na Hungria
Os mestres hão de a mim render-se

Afinal de contas, sou poeta,
Quem me julga assim, não me contesta -
Tem certeza!
....................

(OlgaMota de good humor)

sábado, 18 de dezembro de 2010

Circunstancial


Festejar a calma de um amor longevo,
cenhos domesticados,
ou desfrutar os corpos
nos destemperos duma noite sórdida?

Calar  os sonhos que se instalam
densos e perfeitos no
corpo de um amor que sequer viceja...

Como?...

Sorver a vida
sem que a taça
transborde e saia pelo ralo (?)

E o amor perfeito
escorra
na imundície fina do
fiel vassalo -
esse meu Desejo.

Olgamota

o barquinho (boa vontade)


aqui, ó,
o barquinho:
veja:
não há sol,
só nuvens
e chuva

e o barquinho...?
veja.

veja
o barquinho,
veja.

(para ser declamado com um barquinho de papel nas mãos, ou então, enquanto faz o barquinho, ou então...
fazendo bolinhas de sabão, ou então...remando mesmo um barquinho em Veneza, sei lá...ou andando nas ruas de São Paulo)

Aqui neste mesmo lugar, sabe?


Aqui, onde a volta da chuva que caiu ontem molha ainda a laje fria,
sinto a alma em desalento (noite mal dormida) .
O vento vem e volta com a chuva e cai um pranto lento, controlado; porem, o que talvez sinto: talvez saudades - talvez no peito essa dor que arde- talvez seja saudade, roi minha aparência, talvez seja verdade.
Afinal de contas, eu não minto.
É tempo de ir embora, pressinto com tanta lucidez essa calma que invade as certezas, sabe?
É hora de ir embora.
Olho as malas e os papéis molhados espalhados pela sala. De novo (outra vez? - absinto e certezas, novamente).
Não escreverei mais nada, juro.
Juntarei os papéis e farei um barco e vou brincar de ser criança, antes que me acabe.
Sabe, certezas...?

OlgaMota

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mulheres


São demais para mim. E os homens tambem, diga-se (de passagem - frase defeito!).
A humanidade toda tem sido demais, estou saturada. Aborrecida, atolada num fim de mundo onde a raça humana degenera a olhos vistos, sou mais uma abundantmente - para não escapar dos absurdos adjetivos exagerados.

Canso de procurar pássaros a voar pelo céu e nada!

De olhar telhados e só vejo muros altos. As pessoas se confundem com as paredes e suas tatuagens. Pessoas e muros tatuados.

Tenho medo do vazio e da tempestade que cai a todo momento, um sobre mim, outra sobre a cidade.

Para que não esqueçam os ós e ais, escrevo, e as músicas de jingle bell ecoam para todo lado: comprem, comprem, é Natal! Que enfado.

Nem minha mãe reconheceria essa caligrafia tão encabulada de ser humana. Não sou mais? Sei lá...

Absurdos.

OlgaMota.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

arranhão


amo.

um amor maduro,
cheio de irreverências.

só flores, eu diria -

amo.

um amor risonho,
sonho que se inaugura.

amo.

{estava à toa na vida,
a asa do cupido me arranhou}
...............................................

Para que eu não esqueça o dia:
13?12?2010?
Pois o amor pode se acabar tão de repente....
..........................................................................


OlgaMota

foi rápido - bom pra você


E, de repente, como previsto no prazo, já sentiu tudo acabado. No som : "não há mais nada". Verso e música, ataca o velho violão e, no tom rouco e quase desafinado, canta a canção. Já não há mais dor, nunca houve. Dentro, um vazio há pouco preenchido com as letras da paixão e alguns comprimidos.

- Confesse que me ama!
- Não! Acabemos o que não começou. Dramalhão. Não quero ser aquela que naõ pode deixar rastros.

Preferia deixar perfume suspeito na roupa e alguns pelos loiros no paletó, e as marcas do batom vermlho na gola da camisa tão branquinha...

Preferia ir ao cinema de mãos dadas e mandar mensagens pelo telefone celular sem cuidados.

Depois ainda tomar café na padaria e serem vistos, os dois, a conversar sobre o jornal do dia. Seria assim ou mais nada. Veredito: não tinha vocação para ser a "outra".

Descobriu que não era mais Macabéa.

- Tchau, Ricardo.

E num ataque de fome, abriu a porta da geladeira: nada, nem um panettone. Poxa, não disseram que está chegando o Natal? Já deveria ter um panettone em casa.


Talvez, já que não suporta Natal, esse ano não vai comprar panettone, que se dane!
(rima de pobre).

OlgaMota

domingo, 12 de dezembro de 2010

ébrio tédio (homenagem ao domingo)


Mais um,
penso cá com minhas veias cheias de cerveja

No entanto
Você veio, trouxe flores

Cantei -

Você chorou...
As músicas que costumo cantar na lua cheia

Embriagados no tédio do domingo

Ébrio tédio de não ser segunda
.............................................................................

OlgaMota

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NON SENSE


Non sense". Esas palavras açoitavam-lhe os ouvidos como o vento a bater contra os óculos escuros. Era o que faltava. Era o que faltava, o que lhe falta. Sentido. Norte e rumo, talvez um prumo por onde adejar. A falta que você,! - me faz não tem sentido. Realmente, não tem. Descalço ou andando pelas paredes, este meu non sense vai pestanejar ainda muitas vezes diante do teu retrato. Descansas em paz nas fotos, nas paredes. È justo, é injusto, não me cabe calcular. Às vezes pensava: por onde a vida a fez passar, que caminhos podres, sórdidos, devassaram sua ala e a transformaram assim, nessa coisa...non sense.O poeta odeia: ela usa um motivo, um imprevisto que pode acontecer a qualquer um, à toa. Um motivo para escrever, ou um motivo para ser triste. Macabéa Alice dá as voltas, as costas a quem prejulgava. A quem praguejava tambem a sua sorte. Infeliz, infeliz.

- Vão viver, seus vagabundos, e o mendigo lhe cuspiu à cara.

Certamente, para escrever certas coisas, há que ter "non sense", senão não se escreve. Falar sobre a lua, falar sobre o amor, deve ser fácil; juntar palavras meigas quando se é na verdade, um bruto, ou juntar palavras sensuais, quando, na verdade, jejua. Mas falar sem sentido, deixando que as palavras saiam e calem no papel, não é para qualquer Macabéa. Há que ter vivido o "no sense" para lhe dar sentido. Há que ter vivido, a vida.



Há que ter vagado pelas ruas, quando as lágrimas cegando a vista e a fumaça dos carros esconde,a praça com a luz acesa. Há que ter perdido tudo para ter coragem de dizer "eu não tenho nada". Há que ter deixado pai e mãe, irmãos, tios e primos, para tentar tocar a vida no seu mais foro íntimo e poder senti-la e tentar comprendê-la em sua tragicidade E há que confessar, ser trágica e triste, com validade prevista até o final dos dias. Isso é non sense, do resto ela não sabe nada.

Pra você (.)


Façamos algo prático:

Para começar, um bolo
Sim, um bolo de chocolate

Depois você sai e arruma um emprego
Que ninguem vive de poetar
E de comer bolo de chocolate





para que sujar as mãos de tinta


ou mudar os móveis de lugar



digitar as letras que não cabem

na garrafa

vou me lançar ao mar?...



para que mudar o rumo

prumo para o leste ou p´ro oeste...?

- tanto faz..!



poeira pairando sobre o pó

partícula pisoteada



quem me chama...

quem me implora, quem me clama

alem da morte... ?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

spray de pimenta

sabores perdidos
macabras agonias
chuva impertinente
na cidade grande

solidões
e a mulher incrivelmente magra
que ele me queria
desfilam na face
dos toldos de plástico

(cidade)

como te pertencer,
e me entregar inteira?

Scrambled eggs

OlgaMota
- Claro, só não há sentido, me dirão. Não importa. Haverá que formar-se um sentido, alguma coisa que te prenda a mim, leitor. Poderia dizer querido leitor. Pois que os leitores, se houver, serão muito bem-vindos e queridos.

Um passo em falso e boto tudo a perder. O toque sonoro do computador a toda hora me interrompe. Não posso sair da internet, que é meu mundo agora. É minha vida que se desenrola em partes como papiros antigos. E escrevo. Desculpem-me se não estou à altura. Nunca estarei. Há tanta gente boa, inteligente, culta, escrevendo coisas tão bonitas. Eu? Sou apenas uma “pequena” escrevendo sem susto. E escrevendo coisas pequenas, enxertos, poesias, desenhos, qualquer coisa. Preciso preencher um livro. Rotina, como se fosse. Nunca seria porque não sou capaz, esta é apenas uma tentativa. São 13:30 horas de uma tarde de quinta feira do ano de 2010, um ano que está terminando. É perto do Natal, a época onde pagãos e cristãos se reúnem em torno de banquetes e fazem alegorias falsas (e algumas vezes sinceras) de conciliar o amor, a família, os perdões, tudo em fartura e alegria. Mas sou piegas e me lembro dos pobres e dos aflitos. Não adiro à farsa. Tudo bem, não há problema.
Sento-me só, à minha mesa e às vinte e duas horas tomo meu remédio (sim – para dormir, não sabia?) e apago. No outro dia talvez as pessoas estejam recolhendo as sobras, mas eu já estou na rua, à procura de pedinte, eu mesma uma: um pouco cínica, pois gosto da ceia.

...e assim começa meu livro.


Escorrem dedos pelas minhas costas, enquanto finjo. Caçando minha lama ancestral, nem desconfiam que sou lama.

Não me toquem! Seus dedos gordos e lábios úmidos escorrem em meus braços: de qual planeta vocês estão vindo? De Marte? Mas eu sou de Vênus. Não me toquem! Vivi no seu planeta durante algumas décadas, por isso estou sabendo do plano inteiro.

Corpos.

Agora está dificil o salto, o peso que carregamos é enorme. Que fazer com corpos tão pesados? Suas demandas de carinho, afagos, amparo, sonhos e carícias?

Há, no entanto, um corpo vazio que cai sempre à beira de um precipício - você.
Ôco, fica no limite entre o consciente e o inconsciente, que a gente sabe que é a razão do inconsciente, que, por sua vez, é a lógica mais lógica do sonho.

Você.

Sua alegria me perturba como se fosse tolice. Talvez num pouco de seriedade você pudesse encontrar o snetido da vida. A lucidez ytalvez incoporasse à razão. Você cai...cai...e foge.

OlgaMota

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

réquiem reposto refeito doído


Fui te buscar, querida. Fui ao cúmulo do universo.
Sei das intempéries e do fausto que te cerca...
e do quanto estás só...
Busquei-te nas ruas, minhocas, avenidas.
Entanto, protegida pelo sonho de ser nada
vagavas, eu buscava em cada canto, em cada esquina.

Busquei-te como quem busca uma pureza antiga,
uma pureza antiga de um verso sem rima.
Como quem cata piolhos na ternura de uma crina.
Busquei-te e te vi nas incertezas, malas, aviões e navios sem esquina.
Praças, ruas, dormitórios crus, sem abajures, sem chuveiros de água colorida.

Encontrei-te dormida sobre colchões na calçada.
Por que te amo, te busquei insone, em noites mal dormidas:
macabéa, mauricéia, dulcinéa, pessoa sem sentido.
Das lágrimas que caem dos teus olhos fiz um vestido branco.
Sem nós, sem seda, sem nódoas de tecido.
Apenas um vestido travestido da miséria humana.

Eras...foste...existes...és! - a minha, sempre
etérea, simples macabéa triste.
Transmudas seres - existes, todavia.

Em teu corpo branco outrora residia
um negro ser que te vestia.
(Á, como te queria antes do passado,
antes do que te vestia, dessa veste branca,
dessa veste infame...á, como eu te queria!...)

Sonhei teus sonhos mas era eu quem me dormia
e tu só resfolegavas
as babas do cigarro, catarro de pulmões
que já não vivem...

macabéa triste.

Na mochila do teu rosto, um passado
- macabéa que já não existe.

Fomos, eu para o lado da ventura,
tu, alegre sem saber-se triste - quem sabe um dia
encontramo-nos?
Eu, pobre, tu, do outro lado da avenida.
Cercando-nos à toa o ritmo cego e fútil dessa vida.
Embora lúcidas e sobrevividas, sobrevivem tolas, mansas e caídas.

Como quem ri, e ri-se à toa, tola...sabe-se tão mal querida.
Rí, amada, ri - que o mundo não passa de uma vala
onde o ser desmaia, a morte desanda a pele louçã dos que - ó,
pensam-se alegres e desmaiam-se na vala comum dos tristes:
Na morte, Macabéa, último vulgar insulto.

OlgaMota

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

busca

Apenas busco, não encontrei nada. E nessa busca, nessa repetição, nesta falta de assunto, fico eu enredada nas redes que balançam minha natureza nordestina, minha raça mal acabada, costurada em teias de lagartixa,- sou tão pobre...

Não, eu não.

Eu não sou pobre, ao contrário, sou extremamente rica. De quê? Sei lá...Dizem que tenho isto, tenho aquilo, vou à vernissage, fiz coisas interessantes, fui ao lançamento do livro, fui brilhante. E no meio disso tudo, busco a coisa que realmente importa. Livros não dizem mais nada. Um e vale por todos. A leitura agora me incomoda, me irrita. 

Tomando jeito de seduçao, jeito de intelecto superior - tudo mentira da farsa.

Apenas uma mulher como as outras, apenas de sapato com um pequeno salto alto, uma boca um pouco mal pintada, umas unhas um pouco roídas, um trato mal feito na bolsa de couro, as sobrancelhas escuras e densas num olhar ora cabisbaixo, ora arrogantemente levantado, o nariz arrebitado. Que bonita, os fotógrafos procuram
Não, não eu essa.Ela, essa outra, que de vez em quando assoma, asssim tão de repente, e parece fascinante.

De tudo um pouco, sobrando, somando, subtraindo, matéria plástica, matemática fria e pragmática. Dona de tantas dúvidas, tanta coisa me pertence. 

Menos eu.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Exercício de escrita (crõnica do fastio)


Segunda feira, os papéis nas mãos - contas a pagar. O moço olhou a moça que ainda dormia sobre a cama desarrumada e sentiu vontade de acordá-la e dizer na sua cara: vai trabalhar vagabunda. Mas não podia, era sua mulher. A "santa" passava o dia inteiro dormindo, a noite na internet, e vadiava no tempo vazio.

Seus corpos eram sedentos um do outro, por isso se amavam. Não podiam viver separadas nem um dia, nem um minuto.. Falavam pelo celular o tempo inteiro, dizendo besteirinhas e prestando contas do tipo estou fazendo isso agora e você, bem?
Os colegas de trabalho viviam implicando com ele e sua mania de namorar o tempo inteiro. Mas era assim, afinal, estavam apaixonados. Mas essa paixão já estava custando caro e Rodrigo sentia o dinheiro esvaziar na conta do banco, já pedia dinheiro emprestado na última semana do mês: ao pai, à mãe, aos irmãos, ao cara da padaria, no self-service pendurava a conta. A coisa estava ficando cada dia mais difícil. Ela queria ficar com o carro, então ele ia de metrô ao trabalho. Fazendo os cálculos, talvez fosse melhor mesmo deixar o carro com ela. Mas a danadinha gastava um taque de gasolina por semana e mais um monte de estacionamento não sei onde, não sei quando. Insustentável situação.

Rodrigo coçou o queijo da barba mal feita, às pressas, e decidiu que quando voltasse do trabalho iriam ter uma conversa muito séria.

E o cigarro, dele e dela, quanto custava por mês? E as maquiagens, as bolsas, tratamento de pele, botox (e ela só tinha vinte e sete anos) e sei mais lá...Tinha que resolver isso. Era urgente, não podiam mais continuar assim. Algumas resoluções drásticas foi tomando durante o trajeto do metrô, pegou um papel e anotou: shoping, casa da mae (era muito longe, lá no Meyer), cabelereiro (por que não apenas uma vez por semana?), estacionamento perto de casa- onde já se viu? E Rodrigo não viu, perdeu a estação. Agora teria que voltar na próxima. Estação da Sé (mas onde estava mesmo - Rio ou Sao Paulo?).

À noite seus corpos se tocaram e começou o incêndio.

OlgaMota

sábado, 27 de novembro de 2010

virtuos/idade


muros/
erguidos aos solavancos

trancas/

impedem
a minha voz ousada

contágios
ilegítimos/

claudicantes
lições
que aprendi
na vida

um gesto obsceno
põe final:

-"Cale-se!"

OlgaMota

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sei lá (2)


Sei que é raro, raríssimo sentir algo parecido com amor. Esse tão vulgar homem/mulher, troca de salivas, líquidos e arrodeios na periferia de corpos em brasa. Não passa de ilusão, de nau de afogados, de superficiais antropofagias, como diz a Pagu; simples como a água (tão complexa...), não confundam. É só bom (foi pra você?). O vazio, o vazio do depois é tão mais significativo. A sede não aplaca, volta e meia, volta com mais força - vasos de barro, pois já não sabíamos?
A fome não acaba. Vai e volta, volta e meia a matamos e de novo vem de novo.
O ciclo é vicioso.

e tem mais, já que tudo que escrevo considera-se desabafo, estou cheia, realmente, estou - de fato, homens falsos, mulheres feias de por dentro, falsas guias de amarelos fatais. Não sois vocês, com certeza, as que aqui estão, mas outras, de outras plagas. Outros homens que não me comovem com seus escritos e sua sabedoria empáfia.


e mais tem ainda: sinto saudades de casa. Mas isso ninguem precisa saber. Isso é coisa só minha, muito. Um dia volto e a praia me espera, toda verde-azulada, com sua espuma branca (amarelada) e o som, a voz da água, ah, como sinto saudades. Chuá, chuá, e vai e volta, dali não passa.

e o abraço da água, esse é precioso (sempre quis morrer no mar, mas tenho medo de me afogar), com certeza me acolhendo - isso é minha casa.

Transpiro amor. De quê forma, pergunta-se (quem?).

Mas não esse amor de fato, mas o amor de propriedade indefesa, à mercê de luas.
Luares apenas vastos porque abarcam o céu, no entanto, somente meus.
Sou lua, talvez...Branca, longíncua, indefinidamente em forma de pão de queijo.
Brinco aqui, ali, depois passeio entre palavras difíceis, ininteligíveis. Vago entre elas e percebo, de fato, a minha ignorância. Mas sou amor, e isso não é ignorância, é puro apelo. Sou apelo.
Mas por que falar de mim, essa necessidade indomável...
Hoje se está em desusso, não se fala de si, dos outros, talvez, se fale um pouco,.

Por exemplo, agora o que estou escrevendo é uma carta nãoseipraquem. Mas sei que ele/ela está lendo e pensando as bobeiras de sempre das bobeiras que digo, mas não importa, daqui a pouco vou deletar, pois tenho outros tópicos e outras
comunidades secretas onde vou desabafar.

Não queria provocar esse desmantelo. Queria mais paz e tranquilidade, fazem falta. Mas não há em parte alguma. Sigo à procura. Ademais, destarte, dessas palavras que amo tão desgastadas.

Mas, voltando ao assunto, escrevo em largas letras os desabafos. Dizem alguma coisa? Não, claro que nao, protesto! Não quero dizer nada, apenas escrever, escrever, nessa modornice, angústia de uma fase árida, sem motivos, e seguir...

Podem me abandonar, o barco está afundando sem marinheiro, e o capitão? Á, o capitão se foi. Abandonou barco e pessoas naufragando. Um já se foi, outros irão logo em seguida. E la nave vá.

E ninguem vai ter coragem de dizer: pare.

o círculo é redondo e vicioso.
Não vou parar agora, porque se eu parar eu morro. É assim que funciona. Delirios no divã é para quem pode. Eu não posso - então, meu divã é a máquina em branco.

Disparo tiros de salvaguarda (isso existe?), desde que casei com o soldado. Ele lutava pela Pátria amada e me deixava a salvo. Foi o primeiro a abandonar o barco. Talve em busca da pátria perdida, o paraiso que deixou em algum canto, distraído como ele era...se a pátria não depende dele, fica melhor.

No quartel as coisas não eram como são agora. Eram bem mais fáceis. Tinhamos ração e alienávamos do mundo dentro da piscina bem cuidada. Grades e cercas de arame farpado davam uma sensação de segurança e falsa.
Mas não foi lá que descobri que Papai Noel naõ existe. Isso foi antes.

Agora, com as coisas diferentes, eu tambem sou diferente.

Enquanto vou passando à toa, pouso a mão no teclado e as palavras saem, sem querer, saindo sem querer. Repetições a quem não amo, de maneira alguma, até oeio as invasões que faz comigo. Me tira, é isso. Me tira de um espaço e me leva a outro onde existo - minha praia.

Abro o livro e leio a música, descubro que está errado. refaço. Mas estou confusa, muito confusa. A música me impede de pensar, e o livro sujo de lasanha, não me diz mais nada. A história de Clarice, a mulher. Me confunde quando toca sentimentos fundos, exacerba meus ossos triturados no último inverno.

Vi o filme documentário sobre...como é mesmo o nome do escritor português, casado com a Pilar del Rio...Sim, sim, não me lembro. Mas ele é tão famoso. Fizeram um filme que gostei. de que adianta, se esqueço tudo?

É um homem profundo e raso ao mesmo tempo. Mantido por mais tempo na máquina de viver porque escrevia.

A tentativa feroz de permanecer vivo. A posteridade (falácia).

E enquanto adorno nomes e pessoas para que me engulam de garganta abaixo,
declino da música e prefiro a mudez das minhas paredes. Elas não me dizem nada, e isso é ótimo. Preciso do silêncio delas agora mais do que nunca.

Hoje é um dia estranho, talvez esteja perdendo o juízo, assim escrevendo ao vivo?

Por favor, alguem - me pare.

Saramago.

E a fome não passa. Quem disse que o desejo morre?

Não morre, Saramago. Mas sempre tem que ter um outro braço para o náufrago se agarrar...verdade? Mesmo que não seja (verdade), prefiro acreditar porquanto talvez tenha desistido de ser uma pessoa espiritual. Isso fica para a velhice, e essa eu empurro com o corpo e valentia de guerrilha.

Por enquanto estou no barco à deriva. Eu e a minha palavra catastrófica, inútil e vazia. Perduro pendurada nelas, elas são meu braço, a bóia que me salva.

Me desculpem, daqui a pouco eu saio, vou para o mundo, descansar um pouco. Na padaria há paz..? Os ruídos de vida que me trazem o mundo vem de lá. À noite, o bar.

E às meninas eu digo sempre (não levem em conta, não sou sábia) - obrigada por existirem.

Talvez voces sejam culpadas dessa tão teiosa "sinfonia" que não me deixa parar e ficar num canto, fazendo alguns tricôs e alguns crochês, me lembrando do passado. Eu não quero o passado. Eu exijo o presente. Nem que tenha que arrancálo a pau e pedra. Preciso de um presente, e esse é a escrita que me salva.

Enquanto escrevo, saraivadas de foguetes disparam minha mente. Não entendo a metade. A outra metade é para que vocês entendam e decifrem, porque ai já não sou eu.é a outra, a que me habita e me atropela na desorganização dos armários com as gavetas abertas, tudo escancarado e a dona da casa escrevendo, desvairado, encurvada com as costas lentas, os olhos fixos nas letras que se juntam e lutando feroz com o sentido.

Claro, o presente é um sonho que acaba rápido.

O passado, talvez por ser mais sólido, apega-se ao cerébro, faz sinapses à revelia. Mas eu acho incerto, porque, na verdade, a gente cria um passado todo enfeitado: defuntos maravilhosos, infância triste, coisas que a gente inventa. Não já inventaram até o amor ("o nosso amor a gente inventa...").

Acho que escrevo para inventar um presente (ó meu Deus, tomara que ninguem tenha dito isso antes - para não me chamarem de plágio). Um plágio que inventa. É isso.

Em uma de suas poesias, o Oswaldo (Fernandes) fala alguma coisa sobre o sobrenome. Sobrenome é passado, não concorda? Então...ele fala sobre um caixão onde está escrito, ou estava o seu sobrenome. Quando li o poema não entendi nada. Agora, neste exato momento, estou entendendo o que ele quis dizer. Mas não me peça para explicar. Hoje o que mais li e me marcou foi o poema
do Allan (Smith?) - perdão, esqueço.

Desatinou essa loucura de multiplicidades em mim. Às vezes um poema detona, um escrito qualquer, uma frase...um átomo detona um universo escamoteado.

e agora, como um móvel velho, preciso arrumar algum lugar para ficar.

Tirei a poeira, sacudi os carrapichos, preguei uns pregos na sandália velha, aprumei com um pedaço de papelão dobrado o canto desancado, e fui.

Virei expiração.

OlgaMota

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

pequena história (quatro parágrafos do oitavo)


Esconde o corpo atrás do balcão e faz da porta serventia para o ladrão. Ele entra, arrombando, destruindo, e armazena seus tesouros. Muito simples: rouba tudo, diz: não presta, seleciona. No chão, os de menosvalia, na bolsa, o que tem valor. Ainda disse: não gostaria de ser uma das tuas partes na minha casa. E roubou sua alma.

O dia terminou e ela inda estava lá, sentada na frente do armário vazio. Ele tinha levado mais, muito mais do que suas roupas (para que lhe serviriam?).

E, no mais, até a maquiagem - pra que, meu Deus? Deixou-a de cara lavada.

Na máquina, a malha de molho. Na cabeça, o amor e a dor - rima pobre - foi o que restou. Não me cobrem rimas ricas. Tenho que contar apenas a história.

OlgaMota