quinta-feira, 31 de março de 2011

DELIRIOS DE DULCINEIA


Aqui estou na terra de Cervantes
Embora fraca de saude e de ma vontade
O sol me abencoa na mesma cidade
Onde outrora morreu o valoroso Sancho

Na santa ignorancia que me alumia
Vejo ceu, cores, nuvens e passantes
Eu, que nao mereco tantas regalias
Sinto-me curvando ao peso da Historia

Predios silenciosos parados em moldura branca
Gordas pombas em arvores primaveris
Estarei louca, ou coisa que o valha? -
Pois vejo Sancho bem na ponta do nariz


OlgaMota



"Ah serrana, serrana; Malhadas, Malhada; por que foges tu? e como andas estes dias coxeando! Que lobos te espantam, filha? Nao me diras que e isto, linda? Mas que pode ser, senao que es femea, e nao podes estar sossegadda? Mal haja a tua condicao e a de todas aquelas a quem imitas. Volta, volta, amiga, que se nao estiveres tao satisfeita, pelo menos estaras segura no teu aprisco ou com tuas companheiras, que se tu, que as has de guiar e encaminhar, andas tao desencaminhada e tao sem juizo, onde pararao elas?"



(Dom Quixote de La mancha, de Miguel de Crvantes, pag. 567 - II volume).

quarta-feira, 30 de março de 2011

sem acento...[

Nao deem por favor muita importancia ao que a Macabeia escreve. As vezes fica meio lunatica, quando sai a passear com cachorros. Sim, porque na Europa e chique passear com cachorros e macabeia viu um filme do woody allen e se apaixonou pela mocinha que passeava com os cachorros e acabou se casando com um velho. Desde entao, a moca vive meio pirada, sacudindo os cabelos dentro do onibus e enchendo de caspa os casacos dos velhos senhores que estao sentados no banco de tras.

Tras um casaco em forma de lua e, de vez em quando sai pela rua em busca do ocio que deixou em casa...volta, volta e meia ve a lua pela fresta da janela. So, impaciente, dedica-se ao coco dos cachorros com muito carinho e afeot. E brega, como nao? E brega sim e nao abre mao disso. E uma questao de saber as origens e nem tra la la pras origens.

Dizem-na louca e dai? Nem liga, vai importando coisas do chines e aprendendo mandarim. Segue o curso da vida como uma estrela cadente (sempre em queda).

Ai, pobre Maca, como fazer com teus desvarios alucinados no meio da noite, quando a tua companhia e apenas o sofa de dois lugares?

Tenho que partilhar sua loucura e apascentar os demonios que a perseguem durante as penosas noites quando acorda apesar dos comprimidos, pastilhas, chas e cigarros de machonha.

Leva-la a passear, e a palavra....Vamos, Maca, me acompanhe. Sigamos juntas essa estrada que e a loucura que se apresenta. Vamos, nao tenhamos medo, afinal de contas, ja fomos uma so.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Treinando sem acento


A prosa


A moca escrevia com todos os dedos das maos no aparelhinho que tinha um nome estranho, eu a observava: os dedos ageis, os cabelos acompanhando o movimento dos bracos e dos olhos que percorriam o papel. Era uma cena interessante. Ao seu lado parado, preso a uma coleira, estava um cachorro, Sem motivo aparente, o cachorro olhava para mim e rosnava num ruido ameacador.Pensei em levantar e ir embora, mas depois resolvi enfrentar a fera. Resolvi rosnar tambem, mas nao queria, obviamente, que alguem observasse a coisa e pudesse pensar: e louca,

Entao, matreira, coloquei o jornal cobrindo o rosto, e, de vez em quando devolvia os roncos do cachorro bobo com caretas horriveis, silenciosas, porem. Essa diversao inocente veio a causar a maior confusao na espelunca. A moca, que nao podia ver, de onde estava sentada, o que causava a estranheza no cachorro, puxava a coleira e dizia em alemao: para, Tutu.O bonitinhho comecou a ficar furioso e passou do rosnar para um latido estupidamente forte, e que provocou reclamacoes de parte dos clientes que estavam ali tomando suas cervejinhas, seus cafezinhos. Mas ninguem podia ver o causador do barulho todo, pois eu estava bem escondida por detras de uma mesa de canto e o jornal.

Enfim, a moca teve que parar de datilografar (no meu tempo se chamava assim), recolher o toto (tutu), as coisas dela todas, pagou o cafe e saiu arrastando o cachorro furioso que nao parava de olhar e latir para mim. A essas alturas, para nao ser identificada, parei de fazer caretas. Eles sairam.

So assim pude tomar minha cerveja em paz, porque afinal, nao gosto mesmo de cachorro rosnando perto de mim, apesar de isso ser um fato raro, ja que os cachorros, normalmente, gostam de mim. Troco afagos ate com cachorros feios e fedidos (quando quero conquistar o dono)...Mas esse nao sabia brincar; talvez eu deva saber um pouco mais sobre cachorros, treinando. Nao cachorros, mas seres humanos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O medo, até quando? Quando aprendemos coisas que nos viram monstros, os monstros nas mãos de um Deus cruel, inventado em palavras duras e secas. Castigo, dores, pagando o mal que fez, o mal pelo mal, temor e medo - diferenças sutis nas entrelinhas. Eu preciso do meu Deus de volta, mas só da Sua bondade, talvez do Seu perdão e preciso me confessar. Dizer: meu Deus, até, até..quando? E nisso não está um pedido de sentença, nem de piedade, eu só quero saber se Ele ainda me dará forças para continuar a vida, pra tocar o barco, pra viver o amanhã que seja. Estou desesperança. Estou cansada.
Às vezes, sou assim mesmo: entrego os pontos. A Deus.
Deixo a sala branca imaculada

Como as lembranças vagas

Que vou deixar de mim.
Abelhas de Atenas, o verso que não sai de mim, apenas surge e vai se esmaecendo na manhã dourada. Os rostos espreguiçam, os sons calados depois de uma noite pesada, a preguiça em tocar o fardo pra diante.
Olhos pelados, lavados de água gelada, as mãos ainda emurchecidas pelo frio, todos tocam o dia.
Como se foramos para algum lugar, pegamos as coisas, pertences, e vamos. )Pareço viver um pedaço de passado. Uns dejá vu...Seriam).
Por debaixo das roupas surradas, os tênis amarrados frouxamente, os calos apertados por esparadrapos - metrô, trem, estação, ônibus. É mais um dia-a-dia-a-a-dia.
Rotina dura à espera. São meninos, velhos moços. 
Gentes. Sei que é isso. É sem sentido.
Antes que a tarde chegasse, vestiu o vestido verde (sabe, aquele?) e saiu. 
Tinha na mente as obrigações do dia: comprar pão, leite, margarina, café. Seria depois o almoço, o lanche das crianças, a escola.
Antes que a noite chegasse e era seu turno de novo: lanche, crianças, roupas na cama.
Na madrugada, atravessada por uma dor intensa, decidiu ir ao pronto socorro. Foi.
Lá a detiveram por três dias e três noites que não nunca chegaram.

Maria Ninguem
Ñem me espanta mais o teu olhar atravessado, enviezado, como se fosse um animal a ser domesticado.
Nem me espanta se me olhas com teus olhos tristes e ensimesmados.
Deixo que tu chores, pois agora,
un poco tarde,
Maria és muerta.


Maria Nadie
Consumiu-se inteira e saiu descontrolada pela contramão.
Foi atropelada. 
Ali mesmo jaz.
Seria apenas mais uma história, se ela não fosse quem ela era.


Maria Ninguem
Havia sim, senhor, uma mulher: era ela. Você não sabia que se ela soubesse escrever não escreveria assim tantas tonterias...pura tpm, coisas de mulheres novas?

O destempero, a gana por chamar a atenção "eu aqui!".

Maria agora já é uma senhora. Já não precisa mais disso.

Que tal, Maria, se todas pudessem viajar para a Europa?



Maria Tudo
A amiga veio e ficou na sua casa por alguns dias. Totalmente absorta nas atenções, nos cuidados com amizade zelosa, cuidou da amiga com carinho .
Sentia falta de amigos, ali naquele lugar tão cinza, tão escuro, frio...
Vai sentir saudades, Maria?

Maria Ninguem
Apenas não me falte
Apenas, tão somente,
A mim, que agora sente
A dor de uma alegria pura
Por favor não me delete

quarta-feira, 9 de março de 2011

Passou o carro da policia a toda velocidade. Os guardas, armados, com as escopetas (sei lá...como se chamam aquelas coisas assustadoras) apontando para onde eu estava. Não sei se estavam me procurando, nem o crime que cometi, mas o fato é que, por via das dúvidas, me meti rapidamente embaixo da mesa.
Nesse mesmo lugar aconteceram fatos interessantes comigo. A história do spray de pimenta, a história do engraxate...agora essa:a polícia mirando a minha pessoa insignificante que nem crime sabe cometer (se bem que tenho aulas na tv todos os dias).
Passados os trinta minutos suficientes para ter certeza de que eles não iriam atirar, saí com as mãos para o alto.
- Tou limpa, tou limpa! (aprendi tambem na tv).
Os guardas mandaram-me de volta para debaixo da mesa. Fiquei lá por algumas horas. Mas minha amiga garçonete (Lady Dai) supria regularmente o copo de cerveja, discreta e, como sempre, mui atenciosamente.
O chato eram as baratas que insistiam em passear pelo meu corpo, eu, logo eu, que sempre tive pavor de baratas. Ficamos amigas nessa noite, eu e as baratas, e os guardas foram embora levando o sujeito que estava sentado na mesa ao lado, que mostrou muita resistência se dizendo inocente, inocente, inocente!
Hoje é um dia, apenas mais um em que me deito e me livro dos pesadelos. A noite agônica deixou-me a lembrança para um dia triste.
Desistir é um evento estranho.
Desistir é um ato de coragem (eu li algo assim na Clarice, foi na Paixão). Não me lembro exatamente o que ela dizia ali sobre desistir, mas era forte e doído. 
Disse para um amigo: desista. Ele respondeu: - mas é um ato de covardia.
Não concordo, completei. 
Desistir é um ato de coragem, tão completo que chega a ser insano. Um ato de desistência consciente, maduro, fiel a qualquer coisa que seja: convições profundas, princípios, inventa-se aí qualquer coisa que tem que ser verdadeira, tem que vir do fundo. De um coração apertado pela dor.
Sim, desistir dói.
Doía.
Hoje tenho tanta coragem que já nem decido por mim mesma. Parece que vou, apenas levada pelas ondas que desistem de ultrapassar os seus limites.
Mas isso sou eu hoje, desistindo de você, amanhã não sei. 02/03/11 de

não sei mais teu nome



Nem de onde vens.
És húngaro, idólatra?

De onde saem as imagens
escaneadas,
falseadas do teu nome...

Fake!

Nesse mundo cibernético
sinto-me afim
Preciso de verdades
De novo a mesma história: eu, o vinho, o teclado.

Falar de solidão, que asco! Que sem sentido é se dizer sozinha, tão acompanhada, tão cheia de gente...volteando ao meu redor, escrafunchando minhas entranhas,

estranhos fados
escuta a minha voz calada.

Dentro de mim, um anjo?


Dentro de mim, um anjo? 

Passei na padaria, estavam os de sempre e outros mais raros, como o homem corcunda que às vezes vai comprar cigarros. Sei de tudo que se passa ali, como eles sabem de mim. O leite, o pão, o refrigerante, a tv ligada, silêncio - é uma padaria quieta.

Nesses dias resolvi voltar a frequentar a padaria. Deu saudades das palavras que voavam e eu as captava com empenho. Isto é do tempo em que resolvi escrever um livro e captava mentes.

Mas nesses dias não tenho encontrado nada. Talvez a fatal descoberta: está tudo dentro de mim. Volto a pensar como "É" escrever um livro. Pego as centenas de páginas escritas e impressas para o meu próprio gosto e vejo o desdem com que trato as palavras. Elas se vingaram. Saíram de mim num voo largo em direção às mentes que agora, em sentido inverso, captam-me. 

Virei vaga e noturna novamente. Silenciada.

Homens já não me admiram, as mulheres, não sei o que fazer delas (estou falando das minhas amigas). De repente, sem palavras, sem homens nem mulheres, fiquei só.

Não sei mais como as coisas aconteceram. Havia esse anjo aqui dentro voando, agora, calado, me instiga e me deixa deserta. Um demônio.

om 02/03/11

domingo, 6 de março de 2011

........

e enquanto o fósforo aceso, ardia ainda,
ela, dura, tesa como uma rainha
esperava o fogo, fátuo, apagar-se:
a pira.

há mistérios num enterro,
ai, se há! não se sabe quem se enterra
se é o morto,
ou se é o seu olhar...

(quem vai me olhar agora?)


..............................................


esse que ali estava
com seu único terno
(e listrado, tadavia),
era seu pai, rapaz,
irmão, tio ou marido?

fez as vezes, foi às fezes...
misturado à relva fria
pobre homem (sem cabelo)...

restava agora a doçura
de um olhar fechado
em pálpebras amarelas
satírico, tosco,
era o marido que era.

................................

enterro ficcional, simbólico, anistia!!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

danem-se

arrancar-te
derrubando 
os alicerces
asas que fincaram
raizes nesta casa
surrupiar teus versos
apagar estrelas
que brilharam 
sobre o mesmo teto
onde estou suspensa
de castigo e raiva
os destinos
que nos prendem
foram-se
como alcatrazes
prendem a seu amo
o escravo
desfaço-me 
de tudo que te lembra
que te vai 
e que te vem
esse destempero
essa esperança
dane-se
quem queira
os destroços
destes teus
farrapos  
e angústias
do que não deu certo
danem-se os bardos
que atiram
a força dos seus
dardos
seus dedões
enormes
danem-se
ai!
apenas a dor
e o desasossego
dos calos
nos sapatos
ardentes
das calçadas

olga mota

lá no Reino de Afrodite"


Os velhos tambem beijam
(Os brutos tambem amam).

Os velhos tambem amam
Pagam mico, fazem drama.

Os velhos fazem dramas.
São aflitos, sentem pressa

São aflitos...sentem pressa...

Na alma se levanta o grito:
Estarei, amanhã, vivo
Sepultura?

Das Cinzas das Palavras



....................
O estômago revira-se e
As palavras sangrentas,
Esquálidas... se acreditam!
Vorazes verves desabrocham
Em despertares roucos...
Pobres loucas - se acreditam!
Eu, que tenho consumido o tempo,,, 
Ele agora me sufoca, desfaz camas,
Aperta o cerco e me provoca azias.
E num ritual de pacto com o vento,
Espalho em frêmitos constantes
As cinzas das palavras que vomito. 

Olga Mota, jan/2010

Danem-se!

arrancar-te
derrubando 
os alicerces
asas que fincaram
raizes nesta casa
surrupiar teus versos
apagar estrelas
que brilharam 
sobre o mesmo teto
onde estou suspensa
de castigo e raiva
os destinos
que nos prendem
foram-se
como alcatrazes
prendem a seu amo
o escravo
desfaço-me 
de tudo que te lembra
que te vai 
e que te vem
esse destempero
essa esperança
dane-se
quem queira
os destroços
destes teus
farrapos 11/01/10 olga 
e angústias
do que não deu certo
danem-se os bardos
que atiram
a força dos seus
dardos
seus dedões
enormes
danem-se
ai!
apenas a dor
e o desasossego
dos calos
nos sapatos
ardentes
das calçadas

olga mota

Pour Elise


nunca houve
nem houveste

despidas vestes do teu ser
estiveram por ai a desdobrar-se

ilusões acendem-te foguetes

luminosos seres nascem e morrem
instantâneos em teus seres

és poeta 
não te morres

Olga Mota

Amado,


escreve-me
algumas palavrinhas, que sejam - 
que me deem alento
que me deixem alerta
atenta ao desespero
para os versos que morreram

não me isola ao teu silêncio
por favor,
escreve-me

mal traçadas
lineares
sem sentidos duplos

eu tanto preciso
eu preciso tanto
de oxigênio

texto sem nome e sem destino - III

O dia chuvoso.

A noite arrastou-se em pesadelos. Sempre com crianças. O que restou da minha?

Texto sem nome e sem destino - II

O dia amanheceu escuro como se fosse noite. Fiquei na cama até às nove horas. Fiquei mesmo, sem nenhum remorso. Que me prende? (à cama, à vida?).
Falta-me sentido, por acaso, amo?
Dispus os lençois ajeitadinhos e estiquei as beiras.
Depois acariciei os travesseiros, retirando as rugas.
Tanto script pra nenhuma cena. 
O dia segue, vou indo junto. 
Tenho contas, tenho planos. 
Ansiosa, aguardo o dia.
Começou às nove horas.

textos sem nome e sem destino - I

Lentamente escrevo. Sem pausas, no entanto. Escrevo, escrevo. Essa necessidade, ópio meu. Toda estranha sinto-me astuta, inteligente (eu?). Risos. De dentro de mim ecoa uma voz triste, escura, sem brilho e luz. Serei eu, a outra? Que fazer, se o meu psiquiatra me deu alta. Em off: "doutor, você já pode andar com suas próprias pernas, vá em frente. Não precisa mais de mim". 
Ele riu e me deu alta. Nao eu, a outra. Essa aqui.

Amor de Bar Virtual (cachaça da poesia)




,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
Esse amor tardio
feito de sombra e prata
amor que me encabula, e
diante dos meus seios cala...

Distante, doentio,
não passa de carcaça!...
(Amor que adormece
e fala que quer amanhecer
na praça!...).

Amor sem graça
nascido da cachaça
nascido da poesia, dói
esse amor de fantasia.

om 

quarta-feira, 2 de março de 2011