quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A GRANDE MACABÉA


Sentada diante da garrafa de cerveja, o rosto afogueado, os olhos brilhantes, a versão de Macabéa. Quem a visse não adivinharia que caminhou desde o Itaim Bibi (da Tabapuã) até o Higienópolis (Veiga Filho). Mostrou ao garçom no mapinha que carregava consigo indicando com o dedo a proeza que tinha acabado de realizar. O moço estava realmente impressionado. Uma senhora daquela idade! Macabéa maratonista. Fashion. Nome de marca: macabéa.com.
Atravessou casas, ruas, bairros inteiros, mendigos, viadutos, bares. Obras, operários, carros, tapumes, e mais carros. Uma passarela gigantesca quase no fim da jornada. Respirou com força e fez ritmo de campeã, com o contrato assinado debaixo do braço, a bolsa "perto do coração selvagem", e o casaquinho preto pendurado para qualquer eventualidade.
Outrora morta agora era glamour, um pouco mais velha e salvada do incêndio que destruiu pequenas partes do seu corpo. Sobreviveu às forças. Então sentiu pela primeira vez o cheiro de um judeu (cheiro de Deus, pensava ela, que tinha mania de cheirar tudo). Eles vinham na direção contrária e ela inspirou bem fundo e aproximou o nariz do braço do jovem de camisa branca e calça preta. Adorou aquele cheiro. Really! Tinham dito que "eles" tem um cheiro peculiar. Já sabia do cheiro de diferentes raças: pretos, brancos, amarelos, asiáticos, africanos, nordestinos e até de ingleses, mas, de judeu, nunca! Foi o cheiro que mais gostou, enjoyed! Foi pertinho do cheiro de Deus. Blasfêmia? Não sabe.
Atravessar preconceitos é o mais difícil, pensava Macabéa. Atravessar corações é duro. Mas, se não conseguir um lugar na poltrona dos nobres, pelo menos um lugarzinho na platéia...Impotência. De repente buscava palavras para substituir a simplicidade das suas. "Abraçar a irrelevância". Fazer arte pela arte.
À parte as bananas que fcaram esquecidas em cima da geladira, nada mais a preocupava. Sim claro, tinha que produzir alguma tela, uma que fosse. A galerista pressionava.

"Na cidade há setenta mil pintores, disse a senhora". - Setenta e um mil, completou Macabéa. Era apenas mais uma com pleno direito ao exercício de sua liberdade. Diferente do papel daquela mocinha inserida no contexto, cujo papel era a fotografia. Muito rímel e sobrancelha pálida, batom rosa e pó, muito pó, para que o brilho não saisse na imagem.

O homem na mesa ao lado furava com o dedo um buraco enome no pão onde entupia as coisas que iria comer (a casa do João de Barro). Um outro falou "deu borboleta". A mulher sentada à sua frente comia com muita disposição um prato de "strogonoff" de frango, uma montanha de arroz e outra de batatas fritas. Macabéa pensou "deve ser o aniversário ela, qualquer coisa comemorativa, pois ninguem come assim tão desavergonhadamente um monte de gordura, a não ser que seja uma data muito especial.

Uma simpatia súbita e espontânea emergiu daqueles contatos. Nada alem disso.

Macaéa então pensou: vou pintar uma série de quadros pequenos e vou chamá-los de "Objetos Gritantes", em homengaem a Clarice Lispector, e o primeiro vai ser um ovo.

Macabéa que não era nada na cidade grande, apenas pagou a conta.


link aqui:

Desilusão II

Sim, porque se fala muito de amor na poesia...
E eu ando por ai e vejo o mundo
Desfazendo-se em agonia...

Procure, procure, e achará
Se a poesia está em todo lugar?
Disse o homem do "eureka"

Procure na flor, procure,
A culpa é sua
Que não se adorna de fantasia

O amor tá aqui, tá ali, tá acolá,
Você, verme imundo (eu)
É que não tem capacidade de encontrar

Fui atrás dos mendigos
Bati em centenas de portas
Abri meu coraçao, e...nada!

O que há de errado?
(comigo?)

[POEMA] DESILUSÃO

Desilusão

O ódio incita
O poeta verve
Imberbe, trona,
Solta as tranças
De retrancas
De rancor
Se, de fato,
houvesse no mundo
um só poeta
que o amor move
Com certeza
Esse seria um
Mundo melhor
Mundo de amor
Mas o poeta
Não muda
Nem seu ódio
Seu rancor
E, lá pelas tantas,
Imunda
O mundo
Com seu dom
Divino
Flechas certeiras
Palavras belas
Jogo, jogo
De besteiras

A Mudança


Em meio às malas que surgiram dos buracos negros da parte de cima dos armários, de onde muita coisa despencou, olhava o cinto afivelado que amarrava uma trouxa de roupas. Desamarrou-o e e todo o conteúdo despejou-se pela chão encardido. Roupas, nada mais. Seriam as que ocupariam as malas? Não sabia, estava tentando uma racionalidade que não possuía de maneira alguma. O que levar, o que deixar? Onde deixar, para quem doar?

Se pudesse só o corpo levaria. Se pudesse desapegaria o corpo de todas as necessidades. Como seria: um Bispo do Rosário, talvez...Aquele que queria desfazer-se da matéria para pode subir ao céu ao encontro de Deus, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, esses sábios que não precisavam de roupas, bolsas, sapatos, bijuterias, maquiagem, porta-isso, porta-aquilo, cartão de crédito... Putz...! Sabiam que se tivessem menos matéria a carregar chegariam mais ligeiro. Um ritual de passagem.

Ela, não. O seu caso era mais simples nesse aspecto e complicado de outro - não tinha intenções de subir aos céus e encontrar com Deus, se pudesse promoveria o encontro por aqui mesmo, ela queria apenas e tão somente carregar menos malas e bolsas de mão. As coisas brotavam das gavetas, dos esconderijos, das caixas abertas uma a uma. Uma espécie de afição apertou o coração cansado da noite cheia de pesadelos (sonhou que carregava um caixão leve debaixo do braço à procura de alguem que atestasse o morto, para que se pudesse enterrá-lo. Supunha que ali só haveria ossos, tal a leveza do caixão, e que tambem já fazia algum tempo estava sendo carregado - o resto do sonho só contou à sua mãe, para que sentisse um pouco de pena dela, mas posso adiantar uma pequena parte: o caixao abriu-se).Tudo a ver com a viagem, a mudança. Mudança é morte, e sempre morte, repetiu a vida inteira. Essa sensação sempre a acompanhou nas suas muitas andanças que despertaram a alma cigana que em si habitava, todavia, a sensaçao de aflição diante das coisas - literais, sempre atormentava.

Ao tempo em que as odiava ao nível do asco, tambem sabia da sua utilidade. Pronto, teria que carregar tudo mesmo.

A pequena Macabéa não tinha quase nada, uma pessoa quase desmaterializada, no material girl - tinha que rir, e esse riso parecia uma sacrilégio porque amava Macabéa, que era um exemplo de vida.

Não deixar nada para trás? Impossível. A "desmaterialização" ainda não lhe era acessível, teria que aperfeiçoar o espírito. As amarras como contas, contratos, consórcios, linha fixa...davam uma impressão de mulher de negócios, quando o seu negócio era somente viver. Onde levaria o violão? Ah, com certeza nas costas (lembrou o caixão do sonho).

Abriu umas outras caixas e descobriu segredos. Cartas, esssas coisas. Rasgou todas em pedaços largos, enfiou num saco plástico e deu um nó bem forte. Lixo. Fotos. Lixo. Cansada de digladiar-se com as coisas, gostaria de tocar fogo em tudo e tentar receber o prêmio do seguro. Iam descobrir, era péssima nos seus planos pérfidos, até o dia de hoje nem umzinho tinha dado certo. Babaus. Pegou o casaquinho preto, largou tudo do jeito que estava e saiu para comprar umas cervejas. Melhor beber para esquecer. 
;;;

klotz e olga

Esquecer? Como?
No saco de roupas havia uma calça masculina. De menino.
Numa gaveta encontrei uma tetra chave identificado com o nome de Isaurinha.
E o pior, o raticida continuou sobre a bancada da pia.
Mas não era a solução - a solução era viver e deixar que Isaurinha usufruisse das sobras daquilo que tinha sido sua vida. Quando as malas estivessem prontas, caberia mais alguma coisa na bagagem de mão, Não seria nem ele, nem a Isaurinha. Á dor já tinha passado.
Seria como o retorno ao Paraiso - não sabe. Talvez uns saraus aqui, ali, algum lançamento de livro, uma vernissage. Afinal ela era tão chique. Macabéa não combinava muitas vezes porque não sabia segurar a taça de vinho e as roupas que lhe emprestava ficam meio frouxas. Tinha que colocar peitos de silicone, desses que a gente compra na farmácia. Tinha sido um tempo bom, afinal...

Alguem dissera: desfaça-se de Macabéa, fique só essa mulher chic. Impossível. Macabéa ERA ela.


link aqui:

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Post do Creito. hehe

Por hoje acaba a noite. acho que devo parar por aqui. resolvi que amanhã eu passo a leiloala de volta.

beijo pra quem fica

*os mosquitos...).

grande feito


Macabéa Alice Julieta da Mota:




"Como quem vai realizar um grande feito, sento no banquinho duro e começo a longa jornada. De manhã à noite, esvaziando as palavras no buraco negro da tela em branco. Depois, vem a sensação de vazio. Penso que acabou tudo, mas ainda tem palavras. Elas dançam intermitentes no meu pensamento levando embora as cores que eram antes das palavras. Já não sou mais, agora sou ex definitvamente. Busco a vida tateando esse teclado e ouço o som de tlec-tlec-tlec até que me sinto tonta, enjoada e parto para outras palavras, agora a leitura.
De fato, me enojo tambem. Reluto diante de uma escapadela ao boteco. Preciso ser um pouco animal e sair pelas ruas. O som das pessoas, porem, raramente - melhor dizendo, tambem me antoja.
Reclusa, cumprindo pena autoimposta (já dito antes) de solidão sem direito a condicional, porque nas poucas vezes em que me dei esse direito, me dei mal.
Fico fazendo o jogo das palavras e me perco, distinta do resto da humanidade; resta-me um banquinho duro e a falta de água. Tenho que ir ao boteco. Minha sede é eterna, aspiro a morte" 


SEXTA FEIRA 13 DE AGOSTO DE 2010

de fato, nunca tinha recebido um elogio assim: ela, que catava letras na velha máquina de escrever que seu pai trouxe da rua numa sexta-feira, 13 de agosto de lá vai pedrada, e disse,

- Aprenda a bater esse negócio aí, que você começa a trabalhar na segunda-feira.

Tac-tac-tac!

No sábado, no domingo, os papeis voavam pela casa amassados, por vezes sujos de comida.

Mas na segunda, em ponto, lá estava ela na porta do extinto Banco (...).

Com seu corpinho elegante e a voz arrastada, disse:

- Bom Dia, sou a Macabéa.

Maca... o quê?

- Béa, respondeu timidamente, apesar do nariz arrebitado. E acrescentou - filha do (Fulano).*Pena que não posso dizer os nomes verdadeiros.

E HOJE, justo hoje, 13 de AGOSTO de 2010, vem um cara que escreve (e não "si"acha escritor)e diz assim: singelamente: uma das mais brilhantes escritoras que já li).

Não sei quanto se pode esperar mais de um dia...!


Link aqui:

Macabéa, A Farsante


Foi enfim desmascarada. Nao é nada do que dissera: nem pobre, nem feia, nem aleijada. Sobra-lhe tempo e dinheiro, é uma farsante, talvez tenha usado drogas.
Atualmente, vive em um pequeno palacete doado por um de seus amantes ricos, tem joias, carro vermelho-sanguíneo e já cometeu o crime de colocar um pouquinho de botox.

Na verdade, é uma escritora famosa, premiada num exterior longíncuo e esconde o currículo para que ninguem saiba. É membro de uma Academia Feminista de Letras, dirige espetáculos pseudosbarraintelectobarramusicais, canta, dança, toca piano e violão.

Reune a nata da intelectualidade paulistana contemporânea no seu minipalácio onde todos bebem vinho chileno, franceses, e alguns brasileiros indicados pelo Ronnie Von, convidados geralmente sofisticados que fumam charutos cubanos e usam perfumes franceses de primeira linha; na verdade, alem de intelectuais, a cúpula da PUC, políticos em ascenção, jornalistas em ascenção, todos assentados em almofadas de seda marroquina, incenso exalando ares benéficos, petiscos exóticos - como os asiáticos grilos fritos ao molho shtywbernh, e algumas cositas importadas por outro amante que é comissário de bordo de uma empresa aérea. Gatíssimo.

Mais, muito mais, descobriu-se sobre ela: que vive de 30 porcento de uma quantia razoável de dinheiro e vislumbra o aumento desse percentual para um futuro a curto prazo.

Mais, muito mais: que é cleptomaníaca, pelo visto, dado que roubou um par de óculos escuros e um maço de cigarros, quando já havia decidido parar de fumar.

Tem um príncipe secreto secretíssimo que é, na verdade, o sustentáculo, o mote, a inspiração da literatura que faz e manda aos ares.

....
Escreve aos ares e despacha através de meios raros e estranhos.
É isso. E tem mais.

....Mas por hoje é só.

(esse foi o dia do paraty...teve uma interferência de Eduardo Perrone)

!

Confesso: Maca é um plágio mal alinhavado de muitas dessas personagens heróicas. E imagino-a rindo disso tudo, afinal, enquanto nos debatemos tentando decifrá-la, ela sorrateiramente nos furta algo.
Comigo, caro amigo, aconteceu algo que nunca pude considerar possível. Tive a alma roubada, enquanto era lido... Logo eu que sempre busquei o pândego como refúgio, a doutrina como linimento, e o álcool como redenção. Que sina essa! Perder , tão fácil, o controle de meus enredos! Macabéa me dá medo. Confesso.
Sabe, brother... Há algo nisso tudo que ainda não compreendo bem. Coisas como essa idolatria que esse nome causa. E qual a causa dessa verdadeira liturgia, entre a obscurescência da verdade reveladora, e essa paz, perene, duradoura, que um abraço possa conceber. Creia. Ela é de carne e osso , e nenhum -absolutamente nenhum- ectoplasma.
Logo se vê que a síntese é o engano. Talvez a palavra plágio tenha conotações diversas. Pudera... Num espaço tão continental como este é bem esperável que coisas assim aconteçam. E tem mais... Palavra alguma tem valor se não dita nos olhos. E acho que não nos olhamos mesmo. Não era momento, tampouco lugar.


Veja , mano véio, o exemplo destas planícies. Desta enseada escura. Os ladrilhos portugueses amarelados, o chão de pedra lisa e irregular... Isto lá é lugar para maiores aliterações? Te digo que não... Nem perdões e nem sermões. Apenas o plágio enraizado em nossos tutanos, nossos pecados originais acumulado por anos, nosso ridículo jeito de pensar o outro.
Mano... pode crer... Nada sei além do que plagio de mim. E és -também- assim. Só te esqueceste de levar anotado na caderneta de freqüência da escola. Pois sempre é preferível o folguedo, o jogo, a roda e a bola, que só exigem do nós o fôlego... Aproveite o dia claro. E durma.

Eduardo Perrone


Olga


E acho que não nos olhamos mesmo. Não era momento, tampouco lugar.
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Por isso - mesmo, Macabéa desiste. Não! Apenas de ser ela mesma ou de ser um plágio, um embuste.
Desistiu há tempos de roubar almas e andar sobre pedregulhos construídos por escravos.
Rompeu as correntes, as amarras que a prendiam ao solo banhado todo dia pelas águas do mar.

E desistiu. Vai contra a corrente, nadando com os braços de outra,
emprestados. Nunca mais será ela, depois da magia.

Rendição, de braços abertos pro abraço final.

Embora,

Sempre pronta para mais um dia., ai que fosse àquele igual!
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Outro:

Recebi um email de um amigo querido e desconhecido, a não ser pelas letras
Fiquei cheia de mim (si) e convencida. Ele dizia: gosta de mim (ele não disse,
eu inventei). Ele me disse: você é parente da Berga Mota. kkkkkkk eu ri.
Ele me disse: não gosto disso, não gosto daquilo, eu confirmei. Ele me disse:
vou almoçar, quer ir comigo? Não, posso, darling, é um pouco distante o teu
lugar do meu. Estou aqui, estranha, pensando nesse meu amigo: ele é meu!
amigo de todas as horas, mas não o conheço. Invocamos alguns santos e 
ficamos juntos por uns três segundos, Ele, a preparar suas receitas, eu a 
passar fome: distantes, eu queria um amigo mais perto, mas não encontro.
Desafeto meus queridos, sou estúpida e grosseira, escrevo besteira, não
ganho nem um tostão para a sobrevida. Vivo de pão e vinho vagabundo -
ah, mas tenho um amigo! Via a vida, viva eu. Estive lendo Leminsky.

(isso deve ser um espasmo...(o titulo foi o creitinho que inventou, não a dona.)

Cruzes, sao meus dedos cheios de tintas, tentando ser o que não sou
Cruzes, são as que carrego sem ajuda dos deuses que prometeram
me ajudar. Cruzes, é saber que é tudo mentira: não saber perdoar, não
poder amar. Cruzes, cruzes, carregamos uns com braços leves, outros
com algazarra. Carregamos e sentimos falta da parte humana que outrora
em nós habitava. Em quando em nós havia o desejo, sonhos, a aventura
de ser. Hoje, quase desumanos reclamamos por algo impossível: a alegria
que só vem em doses duplas de conhaque e de cerveja. A impossibilidade
de carregarmos nossas próprias cruzes, frágeis que somos, nessa soledad.
Magoamos e somos magoados, sentimos e nao somos sentidos. Nessa
eterna busca, buscamos o impossível - a felicidade. E somos inúteis, mesmo.
Queremos soltar palavrões e dizer impropérios achando que assim seremos
livres e felizes. Não, e não. está muito alem. O mundo é infantilizado, os
homens são crianças chorosas e choronas, e as mullheres, ai, são fúteis e
várias. No tengo calefación, isso é infelicidade. Queremos aplausos e nos
contentamos com vaias. Vaidade, tudo é vaidade. Por que tanta mágoa
inútil e vazia sem que haja percepção. A arte nos deveria dar percepção
e não apenas e somente aplausos e platéia cheia. Não gosto de camões.
Prefiro camarões.

A verdadeira MACABÉA - Béa BÉa (não é Béia)

Macabéa, Béa, béa, sou eu. Mas pode ser você. Há outras, não me importo - sejam! Se quiserem o meu nome, sobrenome, a minha roupa, os meus desastres, minha pompa e circunstância, meu avessos, minhas letras, tudo se los doy!

Nada mais importa diante de um nome que não tem pai, parentes, amantes ou dinheiro...de que serve? Aflito, o espelho não responde nem dá tréguas ao tempo como fez com Dorian Gray. Levem-me aos mares, aos desertos, bebam água, matem a ssede, tirem de mim a alma, mas o corpo não me levem.

Deixem-me aqui para que os ratos roam, os insetos comam, os homens se deleitem.
Deixem o que me resta que chama-se dignidade. Em meio às feras no zoológico humano, Macabéa, Béa, béa, soy Yo! Pero declino. Usem e abusem do poder de Macabéa essa moça que já foi mocinha, cinco vezes anistiada, tantas vezes foi amada, sem perdão.


....



Macabéa não confessa bajo tortura sino que toca piano a quatro mãos. É a vida, Macabéa, Béa béa. Essa sou eu. Mas pode ser você, fique à vontade.


Não importa, Dorian é cinza, Macabéa é preta. De fuligem humana. Coberta. A mínima réstea de luz comporta a sua escrivaninha. Escreve compulsivamente e não tem tempo para o pensamento. Macabéa é meio alfita, meio urgente e histérica. Há nela traços de esquizofrenia aguda, disfarçada pelos trapos que carrega, como um casquinhho preto debaixo do braço. Não é difícil reconhecê-la nas ruas porque está sempre gritando aos transeuentes alguma loucura qualquer que lhe vem à mente. Mente? Não, não há mente. So um vazio estereotipado (que é isso?)?


Sou eu, mas pode ser você.



Dorian Grey, ou Doryan Grei, ou Dorian Gray (Joyce?). Sei lá. Macabéa é uma ex-artista. Leu muito durante a vida agora esquceu. Dizem que é Alzheimer, não se sabe. O fato é que Macabéa ainda vive. Pós ditadura, pós-guerra, pós-infarto, pós isso e aquilo outro. Muitos pós.


Macabéa arrumou as malas, as maletas, malotas e malinhas, a frasqueira, a caixinha de primeiros socorros, a de costura, a de bijuterias, um grande saco plástico contendo coisas, o casaquinho preto debaixo do suvaco depilado. Hoje ela está atroz, agitada.

Sempre, partir é dolorido. Deixa-se (ela) um pedacinho aqui, outro acolá, o medo de perder-se total soprando inconveniências do tipo "se aquieta, mulher!". Mas ela não quer, não quer deixar de estar indo, dentro dela essa angústia move montanhas e sertões.

O lugar é lindo. A kiti (está escrito assim no anúncio: aluga-se kiti. Ficou sabendo que ali era o the place. Home sweet home. Tem até jardim de inverno (tsc...ela pensou que era um quintalzinho...e o porteiro informou que lá em cima, na cobertura, ela pode tomar banho de sol e estender roupas grandes para secar - na "laje"?.

Não deixou transparecer o espanto. Achou tudo tão chic... Emocionamente aconchegante: aquelas janelas enormes, antigonas, lindas lindas, o chão de linóleo, tábua corrida, o banheiro, oh my God, é enorme. Quem sabe finalmente, a tão sonhada banheira...

Desta vez a partida é feliz, cheia de esperança. O amigo disse-lhe ao telefone: - seja feliz, você merece. Não, Macabéa não merece, ela apenas precisa urgentemente.



......


A última de Macabéa foi exagerar um pouco no apraz e sair pela Consolação, atravessando bonequinhos vermelhos, sem esperar ficarem verdes, parando no meio da rua atrapalhando o trânsito de pedestres, e, como um zumbi, entrava e saía em qualquer loja, separava um monte de coisa e quando chegava ao caixa para pagar, desistia. Na Loja Marisa separou quatro soutiens de renda (preta, vermelha, outra preta e uma branca), dezenove cacinhas de rendas super sexys, depois de passar quase duas horas provando os ditos cujos (soutiens, né, porque calcinha não se experimenta). Um levantava demais, o outro achatava demais, outro apertava muito, enfim...Pensou "para que quero isso - tenho uns quatro lá em casa,,,"

Decidiu que, um dia, quando vendesse seus livros e seus quadros mandaria colocar silicone nas partes interessantes, essas que os homens gostam: peito e bunda. Morreria gostosa.

Depois entrou num shoping e aquele tipo de iluminação especificamente preparada para deixar as pessoas enlouquecidas numa espécie de sindrome de compra, deixou-a imediatamente entorpecida e perdeu a noção do gosto e poder. Tudo que está ali parecia absolutamente essencial à sobrevivência da pobre: quase comprou um cachorro de louça (um galgo), seguindo o conselho de sua sobrinha "tia compra um cachorro para lhe fazer companhia"! E uma tal de uma panela elétrica que fazia até receita do Mr. Klotz. Por sorte não tinha levado o cartão de crédito, sim, por felicidade. . E estava com uma bota apertada, tanto que quando chegou em casa as unhas dos dedos pés estavam roxas - sério!

Macabéa entrou no cinema escuro e começou a assistir "O pequeno Nicolau". Todos riam desbragadamente, ela sorriu um pouco discretamente, apesar de gostar do surrealismo das histórias baseadas em fatos reais. Os meninozinhos eram quase todos muito feinhos e magrinhos. Mas não era esse o problema.

Ontem era o dia 7 de julho de 2010, isso implica uma tristeza terrivel e um segredo de Macabéa.

O show B.

Ela foi à tal festa. Vinte e cinco reais e a moça garantiu que ela ficaria sentada:

- Olhe moça, eu venho só, então eu preciso que você me assegure que não vou ficar de pé, preciso ter certeza que vou ter um lugar para sentar.

- Ora, dont worry, disse a moça, porem em português com seu sotaque cearense. A menor dúvida, você vai ter sua mesinha.

Foi-se Macabéa para a festa. Era um show de Benito di Paula. (PS.: Estou excitadíssima para contar, pois foram tantas emoções, tantos detalhes, nem sei se vai caber na tela do pc...). Não encontrou mesa, muito menos cadeira. Era uma multidão, parecia uma quermesse, tinha fila para tudo. Bom, isso deve ser o que chamam de show hoje em dia. Nos bons tempos de Maca, no interior, era festa do interior e tava acabado. Show a gente ia e assistia Hoje é um pouco (muito! confesse Maca, mesmo que denuncie a sua idade) diferente. A platéia é o show, sua inquietação, sua procura por bebida, os homens por mulheres, as mulheres por homens, enfim deve ter sido sempre assim. Macabéa estava na gaiola doirada do amor e não percebeu que os tempos mudaram, tanto que ela só saiu quando a porta da gaiola enferrujou, caiu de podre...ela estava livre, e como diria Clarice o que fazer com tanta liberdade? Show.

Voltando ao enredo: não encontrou cadeira, nem mesa, nem garçom, nem gerente, um tal de Sr. Humberto que não existe, perambulou pelos depósitos de engradados de cerveja e encontrou uma cadeira muuuuuuito suja, muito velha e meio capenga, dessas de plástico. Por sorte Maca é magra e não desmontaria a bicha.

Procurou um paninho qualquer coisa para limpar, nada. Bom, carregou a cadeira pelo braço e seguir rumo ao gargarejo. A essas alturas achava-se com todo o direito de ocupar o melhor lugar. Às vezes tinha que carregar a cadeira na cabeça. Estranheza de alguns, ela oferecia a cadeira por cinquenta reais, de brincadeira. Sentou-se dignamente, com as pernas cruzadas, casaquinho ajeitado e bolsa atravessada..

Os garçons, desprezaram-na como sempre. Cadê o "SIM!" ao seu lado? (nota do tradutor: SIM com letra maiúscula significa homem, acompanhante, coisa do gênero). Nada e nada. "Ei, moço!", "Garçom!", "Ei, por favor". Agarrou um pelo braço, ele assustado, todo suado, ela muito séria "Qual o melhor uísque que tem aí".com cara de "essa dona não sabe nem o que é uísque", respondeu "É (olha, esqueci, apesar do ingles fluente que Mr. Brian insiste em me fazer falar - não era, Tithss, claro, nem Black White, nem Ballantines,era coisa melhor, muito melhor). Ela: ótimo. Traga uma garrafa. O assustado gargom "moça, custa duzentos e vinte reais..." "Traga!", disse imperiosa. Sem mesa, apenas as pernas cruzadas, com certeza não caberiam ali um copo, uma garrafa de uisque, uma garrafa de água mineral, um balde de gelo, um copo de requeijão com uns guardanapos dentro. Bem, o homem teria que trazer a mesa e os etcéteras.

Ela fez de propósito, estava furiosa. Pegou a cadeira, atravessou o enorme salão, e lá do outro lado, repetiu a mesma cena para outro garçom, essa raça nojenta e asquerosa que trata mulher sozinha como se fosse um trapo jogado fora, e não tem dinheiro para pagar a conta. Desculpe ser tenho algums leitor garçcom, mas não posso dizewr onde eles devem ir, porque minha santa maezinha nunca me ouvir falar isso que estou pensando, mas, não se enganem, falo, e muito.

Estava agora na primeira "fila", mas parecia uma passarela, uma BR, sei lá o que, não parava de passar gente à sua frente: ela pedia: ó,pór favor, dá pra sair da frente porque paguei muito caro por essa cadeira e cheguei muito cedo para pegar esse lugar. Mentira. Macabéa essa noite tirou para mentir.



Tinha chegado a hora fatal, decisiva: tinha que comprar cerveja: primeiro uma fila para o tíquete, depois outra para a cerveja. Que fazer com a cadeira. Uma moça finíssima abraçada a um cavalheiros finíssimo.cheirosésimos estavam na mesa ao lado. Cara de pau - "Querida (sim, quando ela quer parecer mais velhinha do que já é, ela chama as mulheres de querida - elas ficam sensibilizadas, coitadas, faltam dizer "sim, minha boa velhinha" - "dá para tomar conta da minha cadeira enquanto vou pegar uma bebida". A moça finíssima olhou para a cadeira e o nojo era nítido e claro como o sol que nasceria no outro dia, se houvesse sobreviventes, respondeu diante do inusitado (nesse tipo de história cabe bem um lugar comum - sem trocadilhos - nota do caça-lugares-comuns oficial da editora), "é...posso".

Na fila, foi super divertido. Ela teve que fazer fila paralela, porque o homem atrás dela, empurrava a barriga enorme cotnra ela, encostando nela, foi quando chegou à conclusão que barriga grande é o substituto de órgão sexual masculino. O homem a estava bulinando, literalmente, com a barriga. Pediu licença à moça que estava à sua frente e explicou a situação. Macabéa é assim: ela adora horrorizar as pessoas dando explicações que elas não pedem. Cerca de quarenta e cinco minutos depois de barrigadas, italianos paqueradores e aflitos por companhia, parlando e parlando com las manitas buebas, finalmente três tiquetes para comprar cerveja. Rumo ao bar. E preocupada com a cadeira, Macabéa ficou lá com os cotovelos no granito do bar "ei, ei..." As histórias se repetem sempre. Ufa, voltemos à cadeira.

Estava lá, não tão firme e nem tão forte como sempre foi. Sentou-se na sujeira podrona da cadeira e, para surpresa sua, o show com Benito di Paula começou meia hora antes. Quando ele entrou em meio às situações comuns de luzes, gritos e tais, percebeu o porquê do adiantamento do horário: mais um pouco o sujeito não estaria mais alí e sim em coma em algum hospital. Tinha um contra-regra fazendo os movimentos que ele deveria repetir no palco, e esquecia as letras da música, e quis homenagear um compositor cearense mas não sabia a letra da música. Claro a platéia fazia a sua parte que era maior do que a dele próprio: cantava o que ele esquecia. Nada como ter fãs leais.

Enojada e decepcionada, Maca pegou sua cadeira, colocou na cabeça por causa do trânsito pesado e foi agora para a parte central da grande arena. sentou-se quase atrás de uma mesa de quatr lugares, e quem a visse nunca imaginaria que não fizesse parte daquele grupo. Encaixou a cadeira e foi ficando. Por coincidência o primeiro garçom a quem tinha pedido o uisque passou pelas redondezas, ela abordou-o do alto de sua falsa integração sopcial junto a tão seleto grupo, "cadê o uisque que eu lhe pedi, moço?". Ka ka ka, tinha sempre um plano de vingança contra os garçons..."Foi pra mim não, dona"! Saiu-se bem,o infeliz.

Benito estava um caco, em todos os sentidos. O som zumbia e apitava, os garçons suando suas camisas amareladas, já tinha alguns bêbados cercando a cadeirinha degradada, resolveu ir embora. Mas ainda tinha humor no repertório. No caminho de saída, perguntou a um homem bonito: quer comprar essa cadeira?: Ele (olha,realmente um homem espirituoso, sagaz e inteligente) respondeu: quanto é? Vinte e cinco, respondeu Macabéa. Dou cinquenta se você trouxer a sua! Cotação alta, Macabéa ficou contente, mas estava cansada, não aceitou a oferta.


crônica triste do domingo/adeus a Macabéa

Ela ouviu uma voz bem atrás, bem nas costas: "Maca!" Voltou-se rapidamente e seus olhos ainda não reconheceram de imediato a voz, antes de pararem no olhar: "Você"? Ela espantou-se. Sim, era eu.
Abraçamo-nos infinitamente, enquanto os sorrisos volteavam ao redor, dentro do metrô. Era eu e era Macabéa.

Depois de quase setecentos abraços e beijinhos no rosto, finalmente sentamos nos bancos duros do trem e começamos a falar atabalhoadamente sobre o futuro, o passado, o presente. Há muito tempo não nos víamos. Desde o ginásio. Somos primas, mas ela casou-se com um banqueiro e mundos diferentes afastaram-nos. Nunca mais nos tínhamos encontrado. Aquele encontro poderia vir a ser a vida inteira que não tinha sido: o principio do retorno de uma amizade que era tudo na minha vida, que foi até mesmo durante algum tempo de casadas.

Estranhei ela estar no metrô, ela riu e disse que as coisas tinham mudado. Por sua roupa meio puída pude perceber que sim, mesmo. Estávamos mais velhas e desgastadas pelos nossos sonhos de filhos e destinos de mães e donas-de-casa. Onde estão?... eu queria saber. Eram tantos, se me lembro bem. Gostaríamos de ter tido mais tempo para nós, não é mesmo, Maca? Mas não foi possível.

Ela formou-se em Farmácia, eu, nao me formei em nada, sou artista. Meu desejo sempre foi escrever, ela sabia.

- Eu sei - ela disse, eu sei. Isso me emocionou porque somente a ela mostrei meus escritos bobos de adolescente. Trocávamos poesias e ríamos muito, mas tambem levávamos a sérios as conversas que julgávamos ser profundas, regadas a Herman Hesse, Kafka e sua barata, Clarice (?) e Dostoiévsky.

Planos desfeitos, fobias sob controle, filhos no mundo, eu e Maca repartimos mil segredos entre quatro estações. Trocamos telefones, endereços, lembranças para fulanos, para ciclanos, para beltranos. Macabéa desceu do trem na sua estação e ficou parada na plataforma com um sorriso triste, enquanto eu, vazia de mim, de rosto colado ao vidro, deixei escorrer lágrimas antecipadas.

Sabia que teria que dar adeus a Macabéa. E o nariz escorrendo colado ao vidro trouxe-me de volta ao encantado mundo da infância.

Good bye, Maca Darling, assoei o nariz na manga do casaquinho preto, Sei que vou te amar por toda minha vida, eu vou te amar, mas não sei, todavia, quando vou ter coragem para dizer o adeus.

Tenho certeza de que não foi um sonho.. Eu vi minha prima nesse dia, como no outro dia eu vi o carteiro, já velhinho, que trazia as cartas do meu namorado, era ele, juro. Eu vi todos passando brancos e certeiros diante dos meus olhos marejados, entre as filas de bancos do trem acostumado a tantas esquisitices. Deixei voar minhas saudades, os meus amigos e parentes que morreram, todos eles, o meu filho... com certeza, fizeram mil viagens comigo, nas minhas estações.

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macabéia

conto de terror/o horror de Macabéa

Nada era como antes. No castelo, as paredes choram um choro constante e Macabéa esperava. As folhas secas formam um longo tapete até a porta de entrada, o silêncio petrifica nos rotos tapetes, um cheiro fétido de borracha. Macabéa sentou-se solenemente aos pés da escada e ficou plantada.

Ontem à noite passamos pela estrada eu e Chapeuzinho e levamos para a vovó Maca umas frutas num cestinho...O Lobo não passara ainda e Macabéa esperava.

Poor Maca! O sonho apodrecia, os Príncipes esgotaram-se, e suas Barbies agora enfeitavam a grotesca sala, onde há de tudo, até sofás, poltronas e cadeiras. A única idéia de sobrevivência parda vem da geladeira: uma lasanha congelada, sempre fora a sua paixão. Insistia: "ele vem!" Essa atração pelo Mau até à própria assustara. Quando ele a raptou, era apenas uma menina, a paixão foi naturalmente brotada e cresceu como erva daninha e amarga no âmbito do Castelo do Homem Sem Alma.

Da menina, um sonho. Pendurou as Barbies na cozinha, cada uma amarradinha a um objeto e suas sombras projetadas. Ninguem suspeitava daqueles rituais macabros e tampouco suspeitavam que aquilo era sofrimento. Parecia amarga, Macabéa, parecia velha...Não conseguia despregar os olhos das sombras projetadas e postava-se, sempre solene, naquele jeito dela se fingir eterna, de pernas cruzadas, com uma elegância arrogante, o casaquinho sempre ali, à mão, pendurado no cabide de acrílico transparente atrás da porta inútil da sala inútil, pois a cozinha lhe bastava. Meu reino por uma cozinha, era o seu castelo. E ficava.

Transparências absurdas e mãos de veludo acariciaram-na, vindas não se sabe donde, para amá-la. Às vezes um pai, um tio, um irmão. Eram sonhos misturados às grotescas fantasias das Barbies penduradas. Esperava.

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