terça-feira, 26 de outubro de 2010

Macabéa, A Farsante


Foi enfim desmascarada. Nao é nada do que dissera: nem pobre, nem feia, nem aleijada. Sobra-lhe tempo e dinheiro, é uma farsante, talvez tenha usado drogas.
Atualmente, vive em um pequeno palacete doado por um de seus amantes ricos, tem joias, carro vermelho-sanguíneo e já cometeu o crime de colocar um pouquinho de botox.

Na verdade, é uma escritora famosa, premiada num exterior longíncuo e esconde o currículo para que ninguem saiba. É membro de uma Academia Feminista de Letras, dirige espetáculos pseudosbarraintelectobarramusicais, canta, dança, toca piano e violão.

Reune a nata da intelectualidade paulistana contemporânea no seu minipalácio onde todos bebem vinho chileno, franceses, e alguns brasileiros indicados pelo Ronnie Von, convidados geralmente sofisticados que fumam charutos cubanos e usam perfumes franceses de primeira linha; na verdade, alem de intelectuais, a cúpula da PUC, políticos em ascenção, jornalistas em ascenção, todos assentados em almofadas de seda marroquina, incenso exalando ares benéficos, petiscos exóticos - como os asiáticos grilos fritos ao molho shtywbernh, e algumas cositas importadas por outro amante que é comissário de bordo de uma empresa aérea. Gatíssimo.

Mais, muito mais, descobriu-se sobre ela: que vive de 30 porcento de uma quantia razoável de dinheiro e vislumbra o aumento desse percentual para um futuro a curto prazo.

Mais, muito mais: que é cleptomaníaca, pelo visto, dado que roubou um par de óculos escuros e um maço de cigarros, quando já havia decidido parar de fumar.

Tem um príncipe secreto secretíssimo que é, na verdade, o sustentáculo, o mote, a inspiração da literatura que faz e manda aos ares.

....
Escreve aos ares e despacha através de meios raros e estranhos.
É isso. E tem mais.

....Mas por hoje é só.

(esse foi o dia do paraty...teve uma interferência de Eduardo Perrone)

!

Confesso: Maca é um plágio mal alinhavado de muitas dessas personagens heróicas. E imagino-a rindo disso tudo, afinal, enquanto nos debatemos tentando decifrá-la, ela sorrateiramente nos furta algo.
Comigo, caro amigo, aconteceu algo que nunca pude considerar possível. Tive a alma roubada, enquanto era lido... Logo eu que sempre busquei o pândego como refúgio, a doutrina como linimento, e o álcool como redenção. Que sina essa! Perder , tão fácil, o controle de meus enredos! Macabéa me dá medo. Confesso.
Sabe, brother... Há algo nisso tudo que ainda não compreendo bem. Coisas como essa idolatria que esse nome causa. E qual a causa dessa verdadeira liturgia, entre a obscurescência da verdade reveladora, e essa paz, perene, duradoura, que um abraço possa conceber. Creia. Ela é de carne e osso , e nenhum -absolutamente nenhum- ectoplasma.
Logo se vê que a síntese é o engano. Talvez a palavra plágio tenha conotações diversas. Pudera... Num espaço tão continental como este é bem esperável que coisas assim aconteçam. E tem mais... Palavra alguma tem valor se não dita nos olhos. E acho que não nos olhamos mesmo. Não era momento, tampouco lugar.


Veja , mano véio, o exemplo destas planícies. Desta enseada escura. Os ladrilhos portugueses amarelados, o chão de pedra lisa e irregular... Isto lá é lugar para maiores aliterações? Te digo que não... Nem perdões e nem sermões. Apenas o plágio enraizado em nossos tutanos, nossos pecados originais acumulado por anos, nosso ridículo jeito de pensar o outro.
Mano... pode crer... Nada sei além do que plagio de mim. E és -também- assim. Só te esqueceste de levar anotado na caderneta de freqüência da escola. Pois sempre é preferível o folguedo, o jogo, a roda e a bola, que só exigem do nós o fôlego... Aproveite o dia claro. E durma.

Eduardo Perrone


Olga


E acho que não nos olhamos mesmo. Não era momento, tampouco lugar.
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Por isso - mesmo, Macabéa desiste. Não! Apenas de ser ela mesma ou de ser um plágio, um embuste.
Desistiu há tempos de roubar almas e andar sobre pedregulhos construídos por escravos.
Rompeu as correntes, as amarras que a prendiam ao solo banhado todo dia pelas águas do mar.

E desistiu. Vai contra a corrente, nadando com os braços de outra,
emprestados. Nunca mais será ela, depois da magia.

Rendição, de braços abertos pro abraço final.

Embora,

Sempre pronta para mais um dia., ai que fosse àquele igual!
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