terça-feira, 26 de outubro de 2010

O show B.

Ela foi à tal festa. Vinte e cinco reais e a moça garantiu que ela ficaria sentada:

- Olhe moça, eu venho só, então eu preciso que você me assegure que não vou ficar de pé, preciso ter certeza que vou ter um lugar para sentar.

- Ora, dont worry, disse a moça, porem em português com seu sotaque cearense. A menor dúvida, você vai ter sua mesinha.

Foi-se Macabéa para a festa. Era um show de Benito di Paula. (PS.: Estou excitadíssima para contar, pois foram tantas emoções, tantos detalhes, nem sei se vai caber na tela do pc...). Não encontrou mesa, muito menos cadeira. Era uma multidão, parecia uma quermesse, tinha fila para tudo. Bom, isso deve ser o que chamam de show hoje em dia. Nos bons tempos de Maca, no interior, era festa do interior e tava acabado. Show a gente ia e assistia Hoje é um pouco (muito! confesse Maca, mesmo que denuncie a sua idade) diferente. A platéia é o show, sua inquietação, sua procura por bebida, os homens por mulheres, as mulheres por homens, enfim deve ter sido sempre assim. Macabéa estava na gaiola doirada do amor e não percebeu que os tempos mudaram, tanto que ela só saiu quando a porta da gaiola enferrujou, caiu de podre...ela estava livre, e como diria Clarice o que fazer com tanta liberdade? Show.

Voltando ao enredo: não encontrou cadeira, nem mesa, nem garçom, nem gerente, um tal de Sr. Humberto que não existe, perambulou pelos depósitos de engradados de cerveja e encontrou uma cadeira muuuuuuito suja, muito velha e meio capenga, dessas de plástico. Por sorte Maca é magra e não desmontaria a bicha.

Procurou um paninho qualquer coisa para limpar, nada. Bom, carregou a cadeira pelo braço e seguir rumo ao gargarejo. A essas alturas achava-se com todo o direito de ocupar o melhor lugar. Às vezes tinha que carregar a cadeira na cabeça. Estranheza de alguns, ela oferecia a cadeira por cinquenta reais, de brincadeira. Sentou-se dignamente, com as pernas cruzadas, casaquinho ajeitado e bolsa atravessada..

Os garçons, desprezaram-na como sempre. Cadê o "SIM!" ao seu lado? (nota do tradutor: SIM com letra maiúscula significa homem, acompanhante, coisa do gênero). Nada e nada. "Ei, moço!", "Garçom!", "Ei, por favor". Agarrou um pelo braço, ele assustado, todo suado, ela muito séria "Qual o melhor uísque que tem aí".com cara de "essa dona não sabe nem o que é uísque", respondeu "É (olha, esqueci, apesar do ingles fluente que Mr. Brian insiste em me fazer falar - não era, Tithss, claro, nem Black White, nem Ballantines,era coisa melhor, muito melhor). Ela: ótimo. Traga uma garrafa. O assustado gargom "moça, custa duzentos e vinte reais..." "Traga!", disse imperiosa. Sem mesa, apenas as pernas cruzadas, com certeza não caberiam ali um copo, uma garrafa de uisque, uma garrafa de água mineral, um balde de gelo, um copo de requeijão com uns guardanapos dentro. Bem, o homem teria que trazer a mesa e os etcéteras.

Ela fez de propósito, estava furiosa. Pegou a cadeira, atravessou o enorme salão, e lá do outro lado, repetiu a mesma cena para outro garçom, essa raça nojenta e asquerosa que trata mulher sozinha como se fosse um trapo jogado fora, e não tem dinheiro para pagar a conta. Desculpe ser tenho algums leitor garçcom, mas não posso dizewr onde eles devem ir, porque minha santa maezinha nunca me ouvir falar isso que estou pensando, mas, não se enganem, falo, e muito.

Estava agora na primeira "fila", mas parecia uma passarela, uma BR, sei lá o que, não parava de passar gente à sua frente: ela pedia: ó,pór favor, dá pra sair da frente porque paguei muito caro por essa cadeira e cheguei muito cedo para pegar esse lugar. Mentira. Macabéa essa noite tirou para mentir.



Tinha chegado a hora fatal, decisiva: tinha que comprar cerveja: primeiro uma fila para o tíquete, depois outra para a cerveja. Que fazer com a cadeira. Uma moça finíssima abraçada a um cavalheiros finíssimo.cheirosésimos estavam na mesa ao lado. Cara de pau - "Querida (sim, quando ela quer parecer mais velhinha do que já é, ela chama as mulheres de querida - elas ficam sensibilizadas, coitadas, faltam dizer "sim, minha boa velhinha" - "dá para tomar conta da minha cadeira enquanto vou pegar uma bebida". A moça finíssima olhou para a cadeira e o nojo era nítido e claro como o sol que nasceria no outro dia, se houvesse sobreviventes, respondeu diante do inusitado (nesse tipo de história cabe bem um lugar comum - sem trocadilhos - nota do caça-lugares-comuns oficial da editora), "é...posso".

Na fila, foi super divertido. Ela teve que fazer fila paralela, porque o homem atrás dela, empurrava a barriga enorme cotnra ela, encostando nela, foi quando chegou à conclusão que barriga grande é o substituto de órgão sexual masculino. O homem a estava bulinando, literalmente, com a barriga. Pediu licença à moça que estava à sua frente e explicou a situação. Macabéa é assim: ela adora horrorizar as pessoas dando explicações que elas não pedem. Cerca de quarenta e cinco minutos depois de barrigadas, italianos paqueradores e aflitos por companhia, parlando e parlando com las manitas buebas, finalmente três tiquetes para comprar cerveja. Rumo ao bar. E preocupada com a cadeira, Macabéa ficou lá com os cotovelos no granito do bar "ei, ei..." As histórias se repetem sempre. Ufa, voltemos à cadeira.

Estava lá, não tão firme e nem tão forte como sempre foi. Sentou-se na sujeira podrona da cadeira e, para surpresa sua, o show com Benito di Paula começou meia hora antes. Quando ele entrou em meio às situações comuns de luzes, gritos e tais, percebeu o porquê do adiantamento do horário: mais um pouco o sujeito não estaria mais alí e sim em coma em algum hospital. Tinha um contra-regra fazendo os movimentos que ele deveria repetir no palco, e esquecia as letras da música, e quis homenagear um compositor cearense mas não sabia a letra da música. Claro a platéia fazia a sua parte que era maior do que a dele próprio: cantava o que ele esquecia. Nada como ter fãs leais.

Enojada e decepcionada, Maca pegou sua cadeira, colocou na cabeça por causa do trânsito pesado e foi agora para a parte central da grande arena. sentou-se quase atrás de uma mesa de quatr lugares, e quem a visse nunca imaginaria que não fizesse parte daquele grupo. Encaixou a cadeira e foi ficando. Por coincidência o primeiro garçom a quem tinha pedido o uisque passou pelas redondezas, ela abordou-o do alto de sua falsa integração sopcial junto a tão seleto grupo, "cadê o uisque que eu lhe pedi, moço?". Ka ka ka, tinha sempre um plano de vingança contra os garçons..."Foi pra mim não, dona"! Saiu-se bem,o infeliz.

Benito estava um caco, em todos os sentidos. O som zumbia e apitava, os garçons suando suas camisas amareladas, já tinha alguns bêbados cercando a cadeirinha degradada, resolveu ir embora. Mas ainda tinha humor no repertório. No caminho de saída, perguntou a um homem bonito: quer comprar essa cadeira?: Ele (olha,realmente um homem espirituoso, sagaz e inteligente) respondeu: quanto é? Vinte e cinco, respondeu Macabéa. Dou cinquenta se você trouxer a sua! Cotação alta, Macabéa ficou contente, mas estava cansada, não aceitou a oferta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário