terça-feira, 26 de outubro de 2010

macabéia

conto de terror/o horror de Macabéa

Nada era como antes. No castelo, as paredes choram um choro constante e Macabéa esperava. As folhas secas formam um longo tapete até a porta de entrada, o silêncio petrifica nos rotos tapetes, um cheiro fétido de borracha. Macabéa sentou-se solenemente aos pés da escada e ficou plantada.

Ontem à noite passamos pela estrada eu e Chapeuzinho e levamos para a vovó Maca umas frutas num cestinho...O Lobo não passara ainda e Macabéa esperava.

Poor Maca! O sonho apodrecia, os Príncipes esgotaram-se, e suas Barbies agora enfeitavam a grotesca sala, onde há de tudo, até sofás, poltronas e cadeiras. A única idéia de sobrevivência parda vem da geladeira: uma lasanha congelada, sempre fora a sua paixão. Insistia: "ele vem!" Essa atração pelo Mau até à própria assustara. Quando ele a raptou, era apenas uma menina, a paixão foi naturalmente brotada e cresceu como erva daninha e amarga no âmbito do Castelo do Homem Sem Alma.

Da menina, um sonho. Pendurou as Barbies na cozinha, cada uma amarradinha a um objeto e suas sombras projetadas. Ninguem suspeitava daqueles rituais macabros e tampouco suspeitavam que aquilo era sofrimento. Parecia amarga, Macabéa, parecia velha...Não conseguia despregar os olhos das sombras projetadas e postava-se, sempre solene, naquele jeito dela se fingir eterna, de pernas cruzadas, com uma elegância arrogante, o casaquinho sempre ali, à mão, pendurado no cabide de acrílico transparente atrás da porta inútil da sala inútil, pois a cozinha lhe bastava. Meu reino por uma cozinha, era o seu castelo. E ficava.

Transparências absurdas e mãos de veludo acariciaram-na, vindas não se sabe donde, para amá-la. Às vezes um pai, um tio, um irmão. Eram sonhos misturados às grotescas fantasias das Barbies penduradas. Esperava.

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