segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o silêncio que esbofeteia



Depois de tudo, o silêncio recompõe-se no encontro entre as palavras mortas e a folha em branco.

Se ao menos eu chegasse a um consenso, um lugar comum, um lugar onde houvesse o verso. Mas não, tenho que percorrer a distância entre o dia e a dor que ele prescreve em matéria de desencanto, até o tempo em que despertes para desaguar os pesadelos da noite mal dormida nos lençois ainda úmidos na espuma da esbórnia dos teus sonhos sórdidos.

Hei que prescindir do sabor e degustar as palavras como elas me vem enquanto espero. Afinal é minha história que escrevo. Com toda a falsidade que lhe assenta como uma luva da verdade. Mas, ainda assim, o silencio me persegue.

A loucura está de sobreaviso e estende-se convidativa como um tapete vermelho da fama na corda bamba, pulsando o sanque de insanidade fria.

Um passo em falso e a voracidade do verbo subtrai-nos com sua enorme língua cheia de nódulos, escarros e varizes, para depois cuspir-nos pedaços, fogos e estilhaços no árido deserto de um picadeiro. Cuspe invertido, jorro de palavras repletas de inferno.

Ora, deixem-me!

(Esquece, não vou lavar tua roupa suja, teus lençois infectados de líquidos bastardos).

Pardo, isolado no escárnio e na crueldade alheia, o corpo frágil debruça-se perigosamente no pátio da imensa solidão que o silencio esbofeteia.

OM

Nenhum comentário:

Postar um comentário