terça-feira, 26 de abril de 2011

'A "quem" (CARTA) - Leia e rasgue


Ouvidos colados a terra umida, forrada de folhas quentes caidas do outono, escutando o som da agua que corre pelas sarjetas da natureza, me ensinou a suportar o passaro que eu achava um chato (me acordava as seis, com sua sinfonia!). A entender o tato que seduzia o meu corpo liso.

A quem devo a graca do sorriso vasto, facil e escancarado. A arte de beber em publico. A arte de me deixar ser.

Contou-me sobre isso, sobre aquilo e aquilo outro, todos os segredos que o meu pavor desconhecia e ainda ouco o som da sua voz sussurrando coisas enquanto, sem vergonha, perseguia com os dedos ageis as esquinas encabuladas do meu corpo frio, triste - e me dizia "eres bella, eres bella, eres perfecta!" - e eu, flutuando nesse espaco vago de nuvens bulicosas que se nomeia desejo, acreditava
.
A quem dormia com o telefone colado a cabeceira "por si acaso" eu precisasse de ajuda nas noites em que a maldita insonia me atormentava...e levou embora todos os pesadelos, noites assustadoras, quando o velho colchao se revirava.

...uma vez cortei o dedo com a faca enferrujada com que te preparei uma comida asquerosa e te obriguei a engolir:

- "Te la hice Yo!"

Depois, perfurou minha rotina com outra faca e me roubou a arte.

Quase-posse, era o perigo. Corri ligeira e tropecei. O que sobrou de mim podes transportar em uma dessas urnas arredondadas e espalhar no chao, aquele mesmo que tu lambias, onde eu pisava.

OM

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