segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

...

Por que você me disse aquelas coisas horríveis, serenamente, olhando na minha cara, deslavado? 

Por que não disse às escondidas, como outros fazem, ou escreveu na porta do banheiro, ou não usou meu batom encarnado no espelho do banheiro, hein?

Porque não pensou três vezes e me mandou um email? 

Nada, nada pessoal, você disse. Como assim, nada pessoal? Não foi meu nome, não foi minha foto, não foi minha cara que você estapeou, minhas roupas que você tirou e que jogou ao chão?

Não foi quem me deixou no meio da rua, nua e descalça, com todos aqueles olhos enormes, os olhares secos, me olhando?

Não foi assim da última, da penúltima vez?

Onde arde essa ferida funda e desumana que habita tua língua, tua garganta, dói. Inseto. O ódio que te tenho agora é maior, muito maior do que o texto macabro assinado com sangue no teto do meu carro. 

Subi toda a rua arrastando as mãos no chão imundo, pedindo cinco centavos a quem passava. 

Errei dez vezes o endereço, perdi o bandeide que curava meus calos, arranhei a testa e revirei os olhos até perder as lentes de contato.

Vaguei sem perdão aflita e descabelada, imunda e sem lentes de contato. Isso. Com toda a miopia me cerceando os passos. Por pouco o caminhão do lixo não me levou.

Gostaria que eu estivesse como Estamira agora, não é isso? É o que você deseja, é isso, é?

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