sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NON SENSE


Non sense". Esas palavras açoitavam-lhe os ouvidos como o vento a bater contra os óculos escuros. Era o que faltava. Era o que faltava, o que lhe falta. Sentido. Norte e rumo, talvez um prumo por onde adejar. A falta que você,! - me faz não tem sentido. Realmente, não tem. Descalço ou andando pelas paredes, este meu non sense vai pestanejar ainda muitas vezes diante do teu retrato. Descansas em paz nas fotos, nas paredes. È justo, é injusto, não me cabe calcular. Às vezes pensava: por onde a vida a fez passar, que caminhos podres, sórdidos, devassaram sua ala e a transformaram assim, nessa coisa...non sense.O poeta odeia: ela usa um motivo, um imprevisto que pode acontecer a qualquer um, à toa. Um motivo para escrever, ou um motivo para ser triste. Macabéa Alice dá as voltas, as costas a quem prejulgava. A quem praguejava tambem a sua sorte. Infeliz, infeliz.

- Vão viver, seus vagabundos, e o mendigo lhe cuspiu à cara.

Certamente, para escrever certas coisas, há que ter "non sense", senão não se escreve. Falar sobre a lua, falar sobre o amor, deve ser fácil; juntar palavras meigas quando se é na verdade, um bruto, ou juntar palavras sensuais, quando, na verdade, jejua. Mas falar sem sentido, deixando que as palavras saiam e calem no papel, não é para qualquer Macabéa. Há que ter vivido o "no sense" para lhe dar sentido. Há que ter vivido, a vida.



Há que ter vagado pelas ruas, quando as lágrimas cegando a vista e a fumaça dos carros esconde,a praça com a luz acesa. Há que ter perdido tudo para ter coragem de dizer "eu não tenho nada". Há que ter deixado pai e mãe, irmãos, tios e primos, para tentar tocar a vida no seu mais foro íntimo e poder senti-la e tentar comprendê-la em sua tragicidade E há que confessar, ser trágica e triste, com validade prevista até o final dos dias. Isso é non sense, do resto ela não sabe nada.

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