sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sei lá (2)


Sei que é raro, raríssimo sentir algo parecido com amor. Esse tão vulgar homem/mulher, troca de salivas, líquidos e arrodeios na periferia de corpos em brasa. Não passa de ilusão, de nau de afogados, de superficiais antropofagias, como diz a Pagu; simples como a água (tão complexa...), não confundam. É só bom (foi pra você?). O vazio, o vazio do depois é tão mais significativo. A sede não aplaca, volta e meia, volta com mais força - vasos de barro, pois já não sabíamos?
A fome não acaba. Vai e volta, volta e meia a matamos e de novo vem de novo.
O ciclo é vicioso.

e tem mais, já que tudo que escrevo considera-se desabafo, estou cheia, realmente, estou - de fato, homens falsos, mulheres feias de por dentro, falsas guias de amarelos fatais. Não sois vocês, com certeza, as que aqui estão, mas outras, de outras plagas. Outros homens que não me comovem com seus escritos e sua sabedoria empáfia.


e mais tem ainda: sinto saudades de casa. Mas isso ninguem precisa saber. Isso é coisa só minha, muito. Um dia volto e a praia me espera, toda verde-azulada, com sua espuma branca (amarelada) e o som, a voz da água, ah, como sinto saudades. Chuá, chuá, e vai e volta, dali não passa.

e o abraço da água, esse é precioso (sempre quis morrer no mar, mas tenho medo de me afogar), com certeza me acolhendo - isso é minha casa.

Transpiro amor. De quê forma, pergunta-se (quem?).

Mas não esse amor de fato, mas o amor de propriedade indefesa, à mercê de luas.
Luares apenas vastos porque abarcam o céu, no entanto, somente meus.
Sou lua, talvez...Branca, longíncua, indefinidamente em forma de pão de queijo.
Brinco aqui, ali, depois passeio entre palavras difíceis, ininteligíveis. Vago entre elas e percebo, de fato, a minha ignorância. Mas sou amor, e isso não é ignorância, é puro apelo. Sou apelo.
Mas por que falar de mim, essa necessidade indomável...
Hoje se está em desusso, não se fala de si, dos outros, talvez, se fale um pouco,.

Por exemplo, agora o que estou escrevendo é uma carta nãoseipraquem. Mas sei que ele/ela está lendo e pensando as bobeiras de sempre das bobeiras que digo, mas não importa, daqui a pouco vou deletar, pois tenho outros tópicos e outras
comunidades secretas onde vou desabafar.

Não queria provocar esse desmantelo. Queria mais paz e tranquilidade, fazem falta. Mas não há em parte alguma. Sigo à procura. Ademais, destarte, dessas palavras que amo tão desgastadas.

Mas, voltando ao assunto, escrevo em largas letras os desabafos. Dizem alguma coisa? Não, claro que nao, protesto! Não quero dizer nada, apenas escrever, escrever, nessa modornice, angústia de uma fase árida, sem motivos, e seguir...

Podem me abandonar, o barco está afundando sem marinheiro, e o capitão? Á, o capitão se foi. Abandonou barco e pessoas naufragando. Um já se foi, outros irão logo em seguida. E la nave vá.

E ninguem vai ter coragem de dizer: pare.

o círculo é redondo e vicioso.
Não vou parar agora, porque se eu parar eu morro. É assim que funciona. Delirios no divã é para quem pode. Eu não posso - então, meu divã é a máquina em branco.

Disparo tiros de salvaguarda (isso existe?), desde que casei com o soldado. Ele lutava pela Pátria amada e me deixava a salvo. Foi o primeiro a abandonar o barco. Talve em busca da pátria perdida, o paraiso que deixou em algum canto, distraído como ele era...se a pátria não depende dele, fica melhor.

No quartel as coisas não eram como são agora. Eram bem mais fáceis. Tinhamos ração e alienávamos do mundo dentro da piscina bem cuidada. Grades e cercas de arame farpado davam uma sensação de segurança e falsa.
Mas não foi lá que descobri que Papai Noel naõ existe. Isso foi antes.

Agora, com as coisas diferentes, eu tambem sou diferente.

Enquanto vou passando à toa, pouso a mão no teclado e as palavras saem, sem querer, saindo sem querer. Repetições a quem não amo, de maneira alguma, até oeio as invasões que faz comigo. Me tira, é isso. Me tira de um espaço e me leva a outro onde existo - minha praia.

Abro o livro e leio a música, descubro que está errado. refaço. Mas estou confusa, muito confusa. A música me impede de pensar, e o livro sujo de lasanha, não me diz mais nada. A história de Clarice, a mulher. Me confunde quando toca sentimentos fundos, exacerba meus ossos triturados no último inverno.

Vi o filme documentário sobre...como é mesmo o nome do escritor português, casado com a Pilar del Rio...Sim, sim, não me lembro. Mas ele é tão famoso. Fizeram um filme que gostei. de que adianta, se esqueço tudo?

É um homem profundo e raso ao mesmo tempo. Mantido por mais tempo na máquina de viver porque escrevia.

A tentativa feroz de permanecer vivo. A posteridade (falácia).

E enquanto adorno nomes e pessoas para que me engulam de garganta abaixo,
declino da música e prefiro a mudez das minhas paredes. Elas não me dizem nada, e isso é ótimo. Preciso do silêncio delas agora mais do que nunca.

Hoje é um dia estranho, talvez esteja perdendo o juízo, assim escrevendo ao vivo?

Por favor, alguem - me pare.

Saramago.

E a fome não passa. Quem disse que o desejo morre?

Não morre, Saramago. Mas sempre tem que ter um outro braço para o náufrago se agarrar...verdade? Mesmo que não seja (verdade), prefiro acreditar porquanto talvez tenha desistido de ser uma pessoa espiritual. Isso fica para a velhice, e essa eu empurro com o corpo e valentia de guerrilha.

Por enquanto estou no barco à deriva. Eu e a minha palavra catastrófica, inútil e vazia. Perduro pendurada nelas, elas são meu braço, a bóia que me salva.

Me desculpem, daqui a pouco eu saio, vou para o mundo, descansar um pouco. Na padaria há paz..? Os ruídos de vida que me trazem o mundo vem de lá. À noite, o bar.

E às meninas eu digo sempre (não levem em conta, não sou sábia) - obrigada por existirem.

Talvez voces sejam culpadas dessa tão teiosa "sinfonia" que não me deixa parar e ficar num canto, fazendo alguns tricôs e alguns crochês, me lembrando do passado. Eu não quero o passado. Eu exijo o presente. Nem que tenha que arrancálo a pau e pedra. Preciso de um presente, e esse é a escrita que me salva.

Enquanto escrevo, saraivadas de foguetes disparam minha mente. Não entendo a metade. A outra metade é para que vocês entendam e decifrem, porque ai já não sou eu.é a outra, a que me habita e me atropela na desorganização dos armários com as gavetas abertas, tudo escancarado e a dona da casa escrevendo, desvairado, encurvada com as costas lentas, os olhos fixos nas letras que se juntam e lutando feroz com o sentido.

Claro, o presente é um sonho que acaba rápido.

O passado, talvez por ser mais sólido, apega-se ao cerébro, faz sinapses à revelia. Mas eu acho incerto, porque, na verdade, a gente cria um passado todo enfeitado: defuntos maravilhosos, infância triste, coisas que a gente inventa. Não já inventaram até o amor ("o nosso amor a gente inventa...").

Acho que escrevo para inventar um presente (ó meu Deus, tomara que ninguem tenha dito isso antes - para não me chamarem de plágio). Um plágio que inventa. É isso.

Em uma de suas poesias, o Oswaldo (Fernandes) fala alguma coisa sobre o sobrenome. Sobrenome é passado, não concorda? Então...ele fala sobre um caixão onde está escrito, ou estava o seu sobrenome. Quando li o poema não entendi nada. Agora, neste exato momento, estou entendendo o que ele quis dizer. Mas não me peça para explicar. Hoje o que mais li e me marcou foi o poema
do Allan (Smith?) - perdão, esqueço.

Desatinou essa loucura de multiplicidades em mim. Às vezes um poema detona, um escrito qualquer, uma frase...um átomo detona um universo escamoteado.

e agora, como um móvel velho, preciso arrumar algum lugar para ficar.

Tirei a poeira, sacudi os carrapichos, preguei uns pregos na sandália velha, aprumei com um pedaço de papelão dobrado o canto desancado, e fui.

Virei expiração.

OlgaMota

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