segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Exercício de escrita (crõnica do fastio)


Segunda feira, os papéis nas mãos - contas a pagar. O moço olhou a moça que ainda dormia sobre a cama desarrumada e sentiu vontade de acordá-la e dizer na sua cara: vai trabalhar vagabunda. Mas não podia, era sua mulher. A "santa" passava o dia inteiro dormindo, a noite na internet, e vadiava no tempo vazio.

Seus corpos eram sedentos um do outro, por isso se amavam. Não podiam viver separadas nem um dia, nem um minuto.. Falavam pelo celular o tempo inteiro, dizendo besteirinhas e prestando contas do tipo estou fazendo isso agora e você, bem?
Os colegas de trabalho viviam implicando com ele e sua mania de namorar o tempo inteiro. Mas era assim, afinal, estavam apaixonados. Mas essa paixão já estava custando caro e Rodrigo sentia o dinheiro esvaziar na conta do banco, já pedia dinheiro emprestado na última semana do mês: ao pai, à mãe, aos irmãos, ao cara da padaria, no self-service pendurava a conta. A coisa estava ficando cada dia mais difícil. Ela queria ficar com o carro, então ele ia de metrô ao trabalho. Fazendo os cálculos, talvez fosse melhor mesmo deixar o carro com ela. Mas a danadinha gastava um taque de gasolina por semana e mais um monte de estacionamento não sei onde, não sei quando. Insustentável situação.

Rodrigo coçou o queijo da barba mal feita, às pressas, e decidiu que quando voltasse do trabalho iriam ter uma conversa muito séria.

E o cigarro, dele e dela, quanto custava por mês? E as maquiagens, as bolsas, tratamento de pele, botox (e ela só tinha vinte e sete anos) e sei mais lá...Tinha que resolver isso. Era urgente, não podiam mais continuar assim. Algumas resoluções drásticas foi tomando durante o trajeto do metrô, pegou um papel e anotou: shoping, casa da mae (era muito longe, lá no Meyer), cabelereiro (por que não apenas uma vez por semana?), estacionamento perto de casa- onde já se viu? E Rodrigo não viu, perdeu a estação. Agora teria que voltar na próxima. Estação da Sé (mas onde estava mesmo - Rio ou Sao Paulo?).

À noite seus corpos se tocaram e começou o incêndio.

OlgaMota

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