sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Malamada


Mala Amada

Você já se sentiu como uma mala?

Uma mala velha, desengonçada, maltratada, sem ziper, sem alças, esborrotando de roupas sujas ou usadas, uma mala dessas antigas, sem rodinhas, escura, triste, arrastada pelas escadas, sendo enfiada em buracos escuros, de qualquer jeito, sem o menor cuidado: mala velha, desgraçada!

Arrastada no metrô, enfiada na traseira de um carro velho reformado, jà?

Já se sentiu ultrapassada, desleixada, mal-amada, rotunda e furibunda, despejada, e afinal jogada debaixo da cama...para ser usada numa próxima viagem?

E se não houver a viagem, para que serve a mala? - Oras, para guardar sapatos velhos, comprovantes de pagamentos do século passado, roupas de inverno no verão, ou, no verão, da moda ultrapassada...

Às vezes lhe passam um paninho, ou doam, emprestam, e nem sequer pedem seu resgate?

Já lhe puseram os pés em cima, como se fosse capacho, e às vezes nem lhe tiram as baratas mortas que se acumularam?

Já sacolejou de ônibus ou no trem da Central, ladeira abaixo, ladeira acima, sem o mínimo cuidado?

Que fazer com a velha mala, que não mais se encaixa debaixo da cama - as camas hoje tão baixas...qualquer um sobe nela, mas...a mala – não, ela ocupa muito espaço.

Você já implorou: me põe dentro da grande, dessa de rodinhas, toda ajeitadinha, de grife, marca renomada?

Embora mereça carinho, a mala não serve para nada, pois estão todos ocupados com suas próprias viagens.

Vai ter festa: leva a mala! “Ah, não sei, a festa é só pra casais”...Ih, ela pode ir ao batizado? “Não, não vai, a mala não entre em igreja!”

O churrasco, sim, pode levar a mala. Aproveita manda ela levar as cervejas, a carne, o carvão e a salada de batata...pois, afinal, para que serve a mala?

Nenhum comentário:

Postar um comentário