domingo, 7 de novembro de 2010

tu e as minhas palavras


Tu dizes que não sei escrever, que escrevo mal e que deveria pontuar melhor. Minha gramática é ruim e meu vocabulário pobre. E, aí, eu e minhas palavras pobres e minhas rimas mendigas, fugimos de ti. E tu nunca mais lerás o que escrevo. Difícil de entender? Pois bem, é assim: se não escrevo corretamente talvez seja por que não o sei fazer. Se não pontuo e virgulo corretamente, talvez seja pela mesma razão., mas não quero desaforos, quero só que saias das minhas palavras que já existiam muito antes de ti.

O que escrevo vem só de um manancial de amarguras (tu dizes - catarses) e por isso não me lerás mais - imponho-te este castigo (ou uma benção - quem sabe?). E mais: jamais saberás de mim, por que sou o que escrevo. Não me escondo atrás de vírgulas, e já te disse uma vez: escrevo entre parênteses e entrelinhas. Assim sou. Tu não terás mais que corrigir vocabulários e colocar ponto e vírgula onde não existem, e nem terás a tristeza (tu dizes) de me ver exposta. Então não serás meu, e tambem não serei tua. O rompimento abrupto de um quê nunca houve. Acusas-me de pouca leitura. Pois saibas que não. Já li minha própria mão, e lá estava escrito: és.

Por matar a minha pobre escrita, tão vã e aflita de quem perdeu o exagero da alegria, é a mim que matas. Fui morta muitas vezes, agora meu holocausto são minhas palavras, a paixão é essa: expor meu coração inteiro. Um presente que dou aos que me leem. Não me lês, não me queres.

Desistamos, então, eu e tu de um pertencimento inquieto e dúbio, sem penetração, como o amor de namorados virgens. Não me lês, não me queres. É uma simples equação.

Talvez não te seja um grande perda. Mas para mim escrever será sempre o exercicio de elaborar perdas, me achando sempre. Não me perco, tu, entanto, tu me perdes.

Deixo-te, enfim, um presente simples, e um pensamento que põe fim à mágica; mágico: não me tens.


Olga Mota

Nenhum comentário:

Postar um comentário