sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Tomar"?


Vai e volta numa incessante viagem (ela). Depois dos pés doloridos, os por ques abafados pela inquietação louca e persistente, para num pequeno lugar indescritível de tão pequeno. Havia uma cadeira e, defronte, uma mesinha. Sentou pesadamente, um barulho de carne fofa sobre o plástico vermelho. Tirou os sapatos e abriu uma sacola que continha um par de chinelos. Trocou um pelo outro. Suspirio de alívio que não foi ouvido por ninguem (?) ao lado da mesinha (seria outra mesinha?). O cansaço cega. Outrora, não veria outras mesas, agora estava cercada de coisas e pessoas estranhas.


Procurou abrigo contra um dilúvio que estava acontecendo ali perto. Depois de estacionar a sombrinha desembeiçada na cadeira, contou as moedas da bolsinha prata e pediu um suco de laranja. Na mesa vizinha um homem deu meia-volta no assento e dirigiu-se a ela falando alguma coisa sobre política. Ela fez cara de "não me interessa" e mergulhou o nariz molhado da água doce nas folhas do jornal.

Mudou de idéia: cerveja! por favor.

Era sua arma secreta. Um velho fez muchocho com sua boquinha miuda e disse para a esposa (deu para ouvir perfeitamente): hoje em dia as mulheres sentam num bar para tomar! Assim mesmo. Tomar como, o que, beber cerveja é "tomar"? Não enche, senõr. Afastou um pouco a folha do jornal e o ímpeto contido foi de dizer um monte de desaforos do tipo é da sua conta, quem vai pagar sou eu, dane-se velho besta, e por aí afora, mas somente lançou um olhar lancinante, capaz de derreter velhos e jovens ademais. Distribuindo sonhos, Macabéa não só "tomou " aquela como outras três mais
Não trançou as pernas nem tampouco descambou no samba que rolava mais tarde no pequeno lugar. Havia gente espalhada pela calçada, espremendo-se entre as cadeiras, fumando, rindo, bêbados e não.

Ela não entendeu nem bem porque estava ali até aquela hora. Tomar todas não era o seu feitio. Talvez o velho tenha enfeitiçado sua auto-estima e ela estivesse apostando inconscientemente com ele sobre aquela forma grosseira de falar. Resistiu ao quinto pedido e foi embora talvez um pouco trumbicando, não se sabe com certeza, pois ninguem a viu, ninguem a conhece, ninguem sabe seu nome, é uma estranha no palácio das horas

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